Atualmente tá na moda antigos militantes de esquerda, pessoas que
lutaram contra a ditadura, narrarem suas experiências de conversão à direita.
Eles adoram dizer o quanto eram ingênuos e o quanto amadureceram. Se você não
souber do que eu tô falando e tiver estômago, leia as colunas do Arnaldo Jabor.
Por isso, neste texto vou fazer o inverso, vou contar como virei à esquerda.
Nem
sempre fui de esquerda, caros e caras. Nem sempre fui feminista. A única coisa
que eu sempre fui, desde que me dou por gente, é desconfiado das religiões. Mas
também nem sempre fui ateu, demorei a me aceitar como tal. Enfim, hoje estou
aqui para falar do meu passado negro.
Posso
falar com propriedade sobre o que é ser manipulado pela grande mídia, porque eu
fui, durante muito tempo. Na minha adolescência eu lia o Estadão e via o Jornal
Nacional todo dia, lia a Veja sempre que podia. Aí vocês podem imaginar quais
eram minhas ideias sobre política. Naquela época, eu não entendia que esses
veículos de comunicação expressavam apenas um ponto de vista (conservador),
isto é, que eles não eram isentos. Eu achava que eles se resumiam a relatar os
fatos.
Curiosamente, quando eu lia a coluna do Arnaldo Jabor, suas opiniões se encaixavam perfeitamente com a reportagem "isenta" que eu acabara de ler. À noite, eu ligava o Jornal Nacional e lá também as notícias isentas casavam com o ponto de vista do colunista. Por fim, no fim de semana eu lia a Veja, cheia de reportagens "imparciais" e, como cereja no bolo, tinha a coluna do Diogo Mainardi.
Curiosamente, quando eu lia a coluna do Arnaldo Jabor, suas opiniões se encaixavam perfeitamente com a reportagem "isenta" que eu acabara de ler. À noite, eu ligava o Jornal Nacional e lá também as notícias isentas casavam com o ponto de vista do colunista. Por fim, no fim de semana eu lia a Veja, cheia de reportagens "imparciais" e, como cereja no bolo, tinha a coluna do Diogo Mainardi.
Percebem? Eu via a mesma notícia em três meios diferentes, um repetindo o que o
outro dizia, e concluía: só pode ser verdade.
Naquela
época a internet já existia, mas não era nem sombra do que é hoje. Eu morava
numa cidade pequena do interior, onde o avanço da internet demorou um pouco
mais para chegar. O orkut estava no início, twitter e facebook não existiam, os
blogs que eu acompanho hoje também não. Em resumo: era quase impossível escapar
da grande mídia.
Quase.
Na época, eu tinha um amigo que destoava de tudo o que eu ouvia por aí. Ele é
de esquerda, petista roxo, vivia no ABC na época das greves históricas do
movimento operário liderado pelo Lula. Conversámos muito sobre política.
Divergíamos em tudo, obviamente. Mas, ao contrário do que o senso comum prega,
que política não se discute, nossas conversas eram civilizadas, regadas a
muitas ironias de parte a parte. Acho que ele olhava pra mim e pensava:
"pobre jovem que sofreu lavagem cerebral". Eu olhava pra ele e
pensava: "bem que o Jabor fala que esse pessoal de esquerda é tudo
fanático e cego".
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