quarta-feira, 17 de abril de 2013

Vicky Cristina Barcelona


                Diretor: Woody Allen

                Elenco: 

                Puta filmão viu! Queria lembrar quem foi que me disse que não era bom, pra eu ligar xingando.

                Conta a história de duas amigas, Vicky (Rebecca Hall, atriz que eu não conhecia e da qual fiquei fã, tá ótima no papel) e Cristina (Scarlett...suspiros), que decidem passar uma temporada em Barcelona. Vick está fazendo mestrado em cultura catalã e Cristina... bom, digamos que Cristina está indo de acompanhante rs.

                Logo no começo o narrador nos informa (e eu adoro filmes com narrador) que Vicky e Cristina, embora sejam amigas e tenham várias afinidades, têm visões totalmente diferentes do que seja o amor. Vicky é toda certinha, tem tudo muito bem programado em sua vida, não gosta de correr riscos e está noiva de um cara que, na ótima expressão de Cristina, é daqueles produzidos em série. Já Cristina, como diz Vicky, tem a mente de uma adolescente: se sentir o coração bater mais forte, não pensa duas vezes em se jogar, é inconsequente, e sente até algum prazer no sofrimento que tem após algum relacionamento dar errado.

                Um dia, numa exposição de arte, Cristina repara num homem de camisa vermelha, Juan Antonio (Javier Bardem, o sr. Testosterona) e quer saber quem é ele. É informada que se trata de um pintor, recém divorciado, que tinha um casamento conflituoso.

                Saindo da exposição, Vicky e Cristina vão jantar, e lá está o tal pintor. Cristina lança-lhe olhares a noite toda e ele vem até a mesa delas fazer-lhes um convite bem inusitado. Quer que elas, num avião pilotado por ele, viajem até Oviedo, para que ele lhes mostre a cidade. E deixa bem claro que, no que depender dele, o dia terminará com os três na cama.

                Vicky fica ofendidíssima e dá um sermão nele. Já Cristina diz: adoraria conhecer Oviedo. A cena seguinte já mostra os três no avião rs.

                Em Oviedo, os três passam um dia muito agradável, Juan Antonio mostra vários pontos turísticos às duas amigas. À noite, no saguão do hotel, ele as convida para ir até seu quarto. Vicky fica indignada e sobe para seu quarto para dormir.

                Cristina, obviamente, aceita o convite. No quarto, eles começam a se beijar. Quando você acha que virá A cena de sexo, Woody Allen nos prega uma peça. Cristina começa a passar mal e vai ao banheiro vomitar. A próxima cena mostra-a prostrada na cama, com um médico ao seu lado, recomendando repouso absoluto. É que Cristina tem úlcera e, sendo tão inconsequente, não pensou duas vezes para se entupir de comida e bebida na noite passada.

                     

                Vick e Juan, sem opções, têm de conviver sem Cristina. Passam mais um dia visitando os pontos turísticos da cidade. Juan desiste de seduzi-la e assim eles começam a conversar, Vick abre a guarda e começa a achar que ele não é esse babaca que ela achava. À noite eles jantam (todas as refeições no filme são regadas a muito vinho) e vão assistir a uma apresentação de violão espanhol. Durante o concerto, Vick e Juan trocam olhares. No fim da noite, ao se despedir, eles se beijam e acabam transando.

                Até aqui deu pra falar do filme sem entregar muita coisa. Se você quer assistir e não gosta de saber antecipadamente o que vai acontecer, pare por aqui. 

                Certamente a intenção de Woody Allen foi balançar as certezas que muitos têm em matéria de relacionamentos.

                A primeira coisa que ele faz é criticar um relacionamento todo certinho como o de Vicky e seu noivo. Noivo que, por sinal, é um chato. Só fala de coisas materiais, do quanto pode ganhar, do que vai comprar etc. E Vick se interessa por arte (um dos motivos de sua paixonite por Juan). É o que acontece em Meia Noite em Paris, lá com os papéis invertidos. Lá o cara é artista, sensível e sua noiva é a típica americana consumista. O recado está dado por Woody.

           Bom, se ele critica esse relacionamento certinho, natural que pensemos que ele exalte relacionamentos não convencionais. Não é bem assim.

          A começar pelo casamento de Juan e Maria Elena (Penélope Cruz, que dá um show de interpretação. Ela rouba a cena), que não deu certo. Dois artistas, duas almas sensíveis, sem maiores apegos às convenções sociais, tem tudo para dar certo, não? Não! Pelo menos não se uma das partes do relacionamento for uma desequilibrada, como é Maria Elena. Juan Antonio pode ser muito sensível, mas não deixa de ter os pés no chão. Como ele diz a Cristina a certa altura: “eu sou o elo de Maria com a realidade”.

                Então talvez Woody esteja querendo nos dizer que a monogamia não dá certo, vide o triângulo formado por Cristina, Maria e Juan, que no começo funciona que é uma beleza. É bonito de se ver.



                Mas tampouco. Com o passar do tempo, Cristina sente um aperto no peito, sente que precisa mudar de ares para se descobrir, sente que aquela relação a três não lhe satisfaz (a cena em que ela comunica Juan e Maria que está indo embora é ótima. Já falei que Penélope tá um show nesse filme?).



                No fim das contas, sabem qual é o recado que eu entendi? Que o ser humano é complexo demais para se satisfazer com uma fórmula de relacionamento. Todo tipo de relação tem suas vantagens e desvantagens. Monogamia pode ser sufocante e entediante, relacionamentos abertos podem gerar insegurança etc. Não se pode ter tudo na vida.

                De todo modo, é legal essa crítica aos padrões convencionais de relações. Somos ensinados desde pequenos a acreditar em almas gêmeas e todos esses mitos românticos, e que qualquer coisa que fuja a esse padrão é imoral. Como se sabe, a monogamia foi criada com vistas a proteger o patrimônio do pater familias, não foi concebida pensando no amor. Não estou dizendo que a monogamia é uma porcaria, que o casamento está falido, apenas digo que ela não é única forma de ser feliz, que vai depender de cada um encontrar sua "fórmula do amor".

               

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Rede Globo consegue o que a ditadura não conseguiu: calar a imprensa alternativa

Retirado de http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/_ed740_globo_quer_calar_a_imprensa_alternativa

Por Luiz Carlos Azenha



Meu advogado, Cesar Kloury, me proíbe de discutir especificidades sobre a sentença da Justiça carioca que me condenou a pagar 30 mil reais ao diretor de Central Globo de Jornalismo, Ali Kamel, supostamente por mover contra ele uma “campanha difamatória” em 28 posts do Viomundo, todos ligados a críticas políticas que fiz a Kamel em circunstâncias diretamente relacionadas à campanha presidencial de 2006, quando eu era repórter da Globo.
Lembro: eu não era um qualquer, na Globo, então. Era recém-chegado de ser correspondente da emissora em Nova York. Fui o repórter destacado para cobrir o candidato tucano Geraldo Alckmin durante a campanha de 2006. Ouvi, na redação de São Paulo, diretamente do então editor de economia do Jornal Nacional, Marco Aurélio Mello, que tinha sido determinado desde o Rio que as reportagens de economia deveriam ser “esquecidas”– tirar o pé, foi a frase – porque supostamente poderiam beneficiar a reeleição de Lula.
Vi colegas, como Mariana Kotscho e Cecília Negrão, reclamando que a cobertura da emissora nas eleições presidenciais não era imparcial.
Um importante repórter da emissora ligava para o então ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, dizendo que a Globo pretendia entregar a eleição para o tucano Geraldo Alckmin. Ouvi o telefonema. Mais tarde, instado pelo próprio ministro, confirmei o que era também minha impressão.
Pessoalmente, tive uma reportagem potencialmente danosa para o então candidato a governador de São Paulo, José Serra, censurada. A reportagem dava conta de que Serra, enquanto ministro, tinha autorizado a maior parte das doações irregulares de ambulâncias a prefeituras.
Quando uma produtora localizou no interior de Minas Gerais o ex-assessor do ministro da Saúde Serra, Platão Fischer-Puller, que poderia esclarecer aspectos obscuros sobre a gestão do ministro no governo FHC, ela foi desencorajada a perseguí-lo, enquanto todos os recursos da emissora foram destinados a denunciar o contador do PT Delúbio Soares e o ex-ministro da Saúde Humberto Costa, este posteriormente absolvido de todas as acusações.
Mentiras e ilações
Tive reportagem sobre Carlinhos Cachoeira – muito mais tarde revelado como fonte da revistaVeja para escândalos do governo Lula – ‘deslocada’ de telejornal mais nobre da emissora para o Bom Dia Brasil, como pode atestar o então editor Marco Aurélio Mello.
Num episódio específico, fui perseguido na redação por um feitor munido de um rádio de comunicação com o qual falava diretamente com o Rio de Janeiro: tratava-se de obter minha assinatura para um abaixo-assinado em apoio a Ali Kamel sobre a cobertura das eleições de 2006.
Considero que isso caracteriza assédio moral, já que o beneficiado pelo abaixo-assinado era chefe e poderia promover ou prejudicar subordinados de acordo com a adesão.
Argumentei, então, que o comentarista de política da Globo, Arnaldo Jabor, havia dito em plena campanha eleitoral que Lula era comparável ao ditador da Coréia do Norte, Kim Il-Sung, e que não acreditava ser essa postura compatível com a suposta imparcialidade da emissora. Resposta do editor, que hoje ocupa importante cargo na hierarquia da Globo: Jabor era o “palhaço” da casa, não deveria ser levado a sério.
No dia do primeiro turno das eleições, alertado por colega, ouvi uma gravação entre o delegado da Polícia Federal Edmilson Bruno e um grupo de jornalistas, na qual eles combinavam como deveria ser feito o vazamento das fotos do dinheiro que teria sido usado pelo PT para comprar um dossiê contra o candidato Serra.
Achei o assunto relevante e reproduzi uma transcrição – confesso, defeituosa pela pressa – no Viomundo.
Fui advertido por telefone pelo atual chefão da Globo, Carlos Henrique Schroeder, de que não deveria ter revelado em meu blog pessoal, hospedado na Globo.com, informações levantadas durante meu trabalho como repórter da emissora.
Contestei: a gravação, em minha opinião, era jornalisticamente relevante para o entendimento de todo o contexto do vazamento, que se deu exatamente na véspera do primeiro turno.
Enojado com o que havia testemunhado ao longo de 2006, inclusive com a represália exercida contra colegas – dentre os quais Rodrigo Vianna, Marco Aurélio Mello e Carlos Dornelles – e interessado especialmente em conhecer o mundo da blogosfera – pedi antecipadamente a rescisão de meu contrato com a emissora, na qual ganhava salário de alto executivo, com mais de um ano de antecedência, assumindo o compromisso de não trabalhar para outra emissora antes do vencimento do contrato pelo qual já não recebia salário.
Ou seja, fiz isso apesar dos grandes danos para minha carreira profissional e meu sustento pessoal.
Apesar das mentiras, ilações e tentativas de assassinato de caráter, perpetradas pelo jornal O Globo e colunistas associados de Veja, friso: sempre vivi de meu salário. Este site sempre foi mantido graças a meu próprio salário de jornalista-trabalhador.
Monopólio informativo
O objetivo do Viomundo sempre foi o de defender o interesse público e os movimentos sociais, sub-representados na mídia corporativa. Declaramos oficialmente: não recebemos patrocínio de governos ou empresas públicas ou estatais, ao contrário da Folha, de O Globo ou do Estadão. Nem do governo federal, nem de governos estaduais ou municipais.
Porém, para tudo existe um limite. A ação que me foi movida pela TV Globo (nominalmente por Ali Kamel) me custou R$ 30 mil reais em honorários advocatícios.
Fora o que eventualmente terei de gastar para derrotá-la. Agora, pensem comigo: qual é o limite das Organizações Globo para gastar com advogados?
O objetivo da emissora, ainda que por vias tortas, é claro: intimidar e calar aqueles que são capazes de desvendar o que se passa nos bastidores dela, justamente por terem fontes e conhecimento das engrenagens globais.
Sou arrimo de família: sustento mãe, irmão, ajudo irmã, filhas e mantenho este site graças a dinheiro de meu próprio bolso e da valiosa colaboração gratuita de milhares de leitores.
Cheguei ao extremo de meu limite financeiro, o que obviamente não é o caso das Organizações Globo, que concentram pelo menos 50% de todas as verbas publicitárias do Brasil, com o equivalente poder político, midiático e lobístico.
Durante a ditadura militar, implantada com o apoio das Organizações Globo, da Folha e do Estadão – entre outros que teriam se beneficiado do regime de força – houve uma forte tentativa de sufocar os meios alternativos de informação, dentre os quais destaco os jornais Movimento e Pasquim.
Hoje, através da judicialização de debate político, de um confronto que leva para a Justiça uma disputa entre desiguais, estamos fadados ao sufoco lento e gradual.
E, por mais que isso me doa profundamente no coração e na alma, devo admitir que perdemos. Não no campo político, mas no financeiro. Perdi. Ali Kamel e a Globo venceram. Calaram, pelo bolso, o Viomundo.
Estou certo de que meus queridíssimos leitores e apoiadores encontrarão alternativas à altura. O certo é que as Organizações Globo, uma das maiores empresas de jornalismo do mundo, nominalmente representadas aqui por Ali Kamel, mais uma vez impuseram seu monopólio informativo ao Brasil.
Eu os vejo por aí.
PS do Viomundo: Vem aí um livro escrito por mim com Rodrigo Vianna, Marco Aurelio Mello e outras testemunhas – identificadas ou não – narrando os bastidores da cobertura da eleição presidencial de 2006 na Globo, além de retratar tudo o que vocês testemunharam pessoalmente em 2010 e 2012.
PS do Viomundo 2: Descreverei detalhadamente, em breve, como O Globo e associados tentaram praticar comigo o tradicional assassinato de caráter da mídia corporativa brasileira.