terça-feira, 31 de julho de 2012

Eu e Guns N´Roses



Há muito tempo venho querendo escrever um texto sobre o Guns. O que me impedia – além da preguiça – é que gosto de tratar dos assuntos com um mínimo de racionalidade, e em se tratando de Guns n´Roses isso é meio difícil para mim, já que se trata de paixão, paixão antiga, paixão adolescente. É óbvio que neutralidade não existe em se tratando de seres humanos, o que há são tentativas de imparcialidade. Mas nem essa tentativa farei.

O Guns é algo como o Corinthians: não existe meio termo. As pessoas amam ou odeiam. Até hoje não conheci alguém que dissesse: “ah, Guns é legal”, de forma indiferente. Conheci muita gente que diz: “Guns? Odeio!”, e só falta cuspir no chão.

Para começo de conversa, se eu não tivesse conhecido o Guns um dia, não gostaria de rock, quiçá de música. Gosto de dezenas de bandas, mas não teria chegado a elas se não fosse o Guns. Assim como para muitas pessoas da minha idade, o Guns foi a porta de entrada para mim.

Tudo começou quando eu tinha 15 anos. Claro que não foi essa a primeira vez que ouvi Guns, lembro-me vagamente de tocarem suas músicas na rádio quando eu tinha uns 04, 05 anos. Minha irmã tinha um DVD deles (o famoso Live in Tokyo de 1992). Um dia peguei para assistir e gostei tanto que passei umas duas semanas vendo todo dia, mais de uma vez por dia. Daí em diante foi um pulo para fazer tudo o que fã faz: procurar conhecer todos os álbuns, todas as traduções de músicas, os clips, as curiosidades, a biografia etc.

O tempo passou, a paixão arrefeceu, outras bandas surgiram na minha vida, tive outras paixonites. Mas nada será como o Guns. Jamais. Por uma razão muito simples: eu nunca mais terei 15 anos de novo. Não terei mais a leveza da idade, a irresponsabilidade, as descobertas da adolescência. E é isso que determina a intensidade da sua relação com qualquer coisa. A gente nunca se apaixonará da mesma forma que se apaixonava naquela idade.

Após essa breve introdução, vamos àquelas perguntas de praxe: qual seu álbum favorito? A formação favorita? As músicas preferidas?

Imagino que seja quase unânime a resposta à primeira pergunta: Appetite for Destruction. Tanto pela quantidade de músicas fodásticas quanto pela qualidade destas (tal qual o Paranoid, do Black Sabbath, parece mais uma coletânea, não um álbum, de tanta música boa que tem).

Minha formação favorita é quase a original, só trocando o Steven Adler pelo Matt Sorum.

E agora chega aquele ponto crítico: escolher a música predileta. Obviamente, isso é impossível. Escolhendo as 10 preferidas ainda fica difícil, mas vamos lá:

1-      Nightrain (Appetite)
2-      November Rain (Illusion 1)
3-      Estranged (Illusion 2)
4-      You Could be Mine (Illusion 2)
5-      Sweet Child O´Mine (Appetite)
6-      14 Years (Illusion 2)
7-      Chinese Democrac y (Chinese)
8-      Civil War (Illusion 2)
9-      It´s so Easy (Appetite)
10-   Used to Love Her (Lies)

E você? Qual seria o seu top 10? Que música você não perdoa não estar neste top 10?

Foi fácil escolher as 5 primeiras. Elas continuarão nesta lista daqui a 50 anos. Faço essa observação porque com música tem muito aquilo de escolher a preferência do momento, em cada época temos uma preferência diferente. Já tive paixonites por diversas músicas do Guns, se eu fosse listá-las aqui, ficaria um top 20. Logo, não estou muito convicto quanto à escolha das 5 últimas, tem umas 12 músicas concorrendo por essas 5 vagas.

Ao iniciar a lista, procurei ser ‘justo’ com os álbuns, equilibrar a quantidade de músicas de cada um na lista. Mas não dá. Por exemplo: ainda que eu adore Move to the City (que seria mais uma representante do Lies), não tem como colocá-la e deixar de fora outras de que gosto mais, como Welcome to the Jungle, Out ta get Me, Rocket Queen, Think About You, Bad Obsession, Pretty Tied Up, Get in the Ring, Locomotive, Paradise City, Mr. Browstone, Better, Catcher In The Rye. Qualquer dessas poderia ocupar os últimos 05 lugares da lista acima.

Parece contraditório eu dizer que o meu álbum preferido é o Appetite e no meu top 10 ter mais músicas dos Use Your Illusion. Mas não é. Escolho o Appetite pelo conjunto da obra. Com os Ilussions é 7 ou 70: a maioria das minhas músicas preferidas está ali. Porém, das outras eu mal lembro o nome, ao passo que no Appetite eu acho que sei até a ordem das músicas, não tem uma ruim ali.

Vocês já devem ter percebido que eu não mencionei o Spaghetti. Não é um lapso. É que não gosto mesmo. Ou, em outras palavras, para ser mais exato: eu mal o conheço. Não consigo citar 4 músicas de cabeça. Escutei-o uma única vez na vida, e quando terminou ficou um vazio, porque não teve uma música que me chamasse a atenção. Quando penso na discografia do Guns, eu, sem perceber, pulo o Spaghetti.

Para encerrar, devo falar sobre o Axl. No começo, não ia muito com a fuça dele. Tive minha fase de “Axl é um babaca”. Ele cometeu alguns erros, sem dúvida. Seu egocentrismo fez com que a banda acabasse (eu adorei o Chinese Democracy, mas aquela formação não é Guns, é uma tentativa de Guns). Mas eu aprendi a gostar dele.

Percebi isso a primeira vez que ouvi o Velvet. Pensei: “nossa, que massa! Mas ta faltando alguma coisa”. Ele realmente não é um doce de pessoa, não é cativante. Mas pergunto: Renato Russo era? Cazuza era? Eram todos pessoas difíceis de se conviver, mas ninguém em sã consciência prefere Legião sem R. R e Barão sem Cazuza. Que me perdoem os que não gostam dele, mas para mim ele era a alma daquela bagaça.

PS – Após terminar o texto, fui dar uma espiada no Spaghetti, ver se repensava algo. Acrescento, então, que New Rose é bem legal. Tem Attitude também, mas essa não é do Guns. De toda forma, vou ouvir este álbum novamente, será interessante “redescobrir” o Guns.

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Me faça sonhar - Made in Brazil

Não consigo parar de ouvir. 
"que me faça sonhar, que me faça suar, com amor"
"que me faça sonhar, que me faça suar, com amooooor"



domingo, 15 de julho de 2012

Meia-Noite em Paris

     Idem ao post anterior: vi hoje o Meia-Noite em Paris, e achei formidável. Como estou com preguiça de escrever sobre, publico aqui a crítica do saudoso Daniel Piza, que faleceu no fim do ano passado, deixando-me, de certa forma, órfão.


NUNCA SE ESTÁ SOZINHO EM PARIS

O filme se abre com um solo de Sidney Bechet (Bechê, na pronúncia francesa) enquanto imagens de Paris se sucedem, diurnas e noturnas, mas Woody Allen não vai falar apenas da beleza turística da cidade luz, de seus tantos cartões-postais, ainda que sigam inexauríveis. O protagonista de Meia-Noite em Paris, Gil Pender (Owen Wilson), quer muito mais da cidade que sua noiva e seus sogros, americanos como ele, que dizem que ela serve "para visitar, não para morar", e só fazem programas banais e compras, muitas compras. Gil está cansado de escrever ou reescrever roteiros medíocres em Hollywood para ganhar dinheiro e gastá-lo em móveis de US$ 20 mil para sua casa em Malibu. Quer escrever um romance, e dos bons. Mas não tem apoio autêntico de ninguém.

Um amigo que encontram lá, um tipo "pedante Google" que acha que conhecimento é acumular informações sem qualquer relação com as experiências, diz logo no começo que essa mania de falar em "eras de ouro", de idealizar épocas como se tivessem sido perfeitamente felizes, é coisa de quem não consegue lidar com o presente. Bem, o presente de Gil não é dos mais inspiradores e, numa noite, sozinho e bêbado, um carro antigo passa e o leva para um festa. Ali vê Cole Porter tocando e cantando Let"s Do It ao piano e conhece o casal Scott e Zelda Fitzgerald; pouco depois, é apresentado a Hemingway; ainda encontra Gertrude Stein, Dalí, Djuna Barnes, Archibald McLeish, Buñuel, Matisse, Modigliani e Picasso. Idealizando ou não, quem não queria estar nesse tempo e lugar?

Nós, espectadores, rimos com o "name-dropping" de Woody e partilhamos a perplexidade de Gil, mas não é esse o único barato do filme. Gil encontra também Adriana (Marion Cottilard, presença muito mais especial que a de Carla Bruni), uma encarnação de charme e sensualidade que sua bela noiva jamais poderia igualar. Ela é amante de Picasso e depois Modigliani, o que vale uma fala deliciosa de Gil: "Você dá outro conceito à palavra groupie". Groupies, como se sabe, são aquelas fãs que transam com os ídolos só porque estes sobem ao palco e tocam dois acordes. Gil tem ainda a oportunidade de receber a opinião de Gertrude Stein sobre seu romance e de conversar com Hemingway, "Papa" (quantas pessoas na plateia sabem desse apelido?), sobre como o amor só vale a pena quando o sexo suspende nosso medo da morte.

Woody faz como ninguém essa reconstituição dos personagens. Quem já leu os textos do cineasta conhece seu dom para parodiar estilos como o de Hemingway, o qual se vê nos diálogos do filme, repletos de "and" ("e"), assertivas (como ao profetizar para Scott sobre Zelda: "Essa mulher vai te deixar louco e vai estragar seu talento") e expressões como "grace under pressure" (graça sob pressão). Não gostei tanto do Picasso mal articulado e rabugento, mas isso é detalhe. O que importa é que esses "amigos imaginários" de Gil, como diz sua noiva em tom de crítica, representam para ele uma experiência virtual que vai se refletir na realidade - e não é para isso que a arte serve? Por um momento, ele pensa se é possível gostar de duas pessoas, mas não demora muito para ver que sua noiva materialista e egoísta não o ama nem merece ser amada.

Da mesma maneira, Woody não quer saber apenas de fazer turismo por um passado glamouroso para quem se interessa por artes e mulheres. Adriana quer viver em outra era de ouro, na década de 1890, e conviver com Lautrec e Degas, jantar no Maxime"s e ir ao Moulin Rouge. Todos já pensamos nisso: em viver na Florença dos Médici, na Londres do exílio de Voltaire, no Rio dos anos 50... Eu confesso que sempre pus no topo da lista a mesma Paris dos anos 20. Mas quem acha que Woody está dizendo que não existem eras de ouro comete tolice. Decididamente, os tipos de conversa, música, dança, literatura, pintura e moda que vemos desfilar no filme, para dizer o mínimo, formam um contraste forte com nossa época frívola, dominada pela patrulha das aparências, tão sem espirituosidade e refinamento. Um dos bares que Gil visita nos anos 20 é hoje uma lavanderia, cheia de máquinas, vazia de coragens.

No final, em que Gil encontra no presente uma chance de perpetuar esse ânimo do passado (encontra um sabor dos anos 20 numa pessoa e num lugar), vemos como foram bobas em geral as resenhas sobre o filme. Woody não fez apenas mais uma "diversão inteligente", como se fosse um bom seriado de TV ou outro de seus filmes recentes. É divertido, claro, mas está a serviço da inteligência, que não é adjetivo. Pode ser lido como um filme sobre a Paris dos anos 20; sobre a relação americana com a cultura europeia (e os americanos atuais se saem mal no filme: sempre se queixando, até da comida); sobre a ousadia de realizar o sonho de ir a fundo no trabalho e no amor; sobre uma cidade ou as cidades especiais, que são mais ricas se têm mais "fantasmas" inspiradores. Sim, parece dizer Woody Allen depois dessa série de filmes rodados na Europa, é preciso lidar com o presente, mas "o passado nem sequer passou", na citação que faz de Faulkner, e há muitas maneiras de lidar com o presente. Au point.

Retirado de http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,nunca-se-esta-sozinho-em-paris,737017,0.htm

Jogos Vorazes

     Há alguns dias terminei a leitura da trilogia Jogos Vorazes, e achei excelente. Como estou com uma baita preguiça de escrever sobre, publico aqui um texto que achei na internet.



Jogos Vorazes (Editora Rocco) é o meu livro predileto. Ponto. Acho que esse é um bom começo para essa resenha. Você sabe que um livro é especial quando você devora 400 páginas em menos de um dia e meio, quando – meses depois – você ainda pensa diariamente na história, ou quando você faz questão de relê-lo no instante em que ele é lançado no Brasil (eu já havia lido anteriormente a versão americana). Quando decidi conhecer o livro, depois de ouvir elogios dele pela internet, mal sabia o que estava prestes a encarar. E sou muito grato por isso. Assim, pouparei ao máximo os detalhes da trama nessa resenha. Você vai ter que, simplesmente, confiar em mim e descobrir sozinho o que essa obra tem para contar.

Jogos Vorazes se passa num futuro pós-apocalítico, onde os Estados Unidos já não existem mais. Em seu lugar, ergueu-se Panem, uma nação governada por uma tirânica Capital, circundada por doze paupérrimos distritos, de onde tiram seus principais recursos. Em decorrência de eventos passados, quando os distritos tentaram se rebelar e assumir o controle, a Capital governa com mão de ferro e, para mostrar que os distritos estão à sua mercê, promovem anualmente um reality show chamado Jogos Vorazes. Trata-se de uma disputa na qual uma garota e um garoto – de doze a dezoito anos – de cada distrito são forçados em uma enorme arena a céu aberto. Lá, são obrigados a lutar, matando uns aos outros até que somente um sobreviva. Enquanto isso, a população de todo o país acompanha cada acontecimento pela tela de suas televisões. Nos distritos, são forçados a assistir. Na Capital, o fazem por puro divertimento.

Neste terrível contexto, vive Katniss Everdeen, uma jovem do Distrito 12, o mais miserável de todos. Ela sempre esteve acostumada com os desafios de sobreviver, especialmente após a morte de seu pai, que a forçou a assumir a responsabilidade de alimentar sua família. Ainda assim, quando sua irmã mais nova é sorteada para os Jogos Vorazes, ela se voluntaria em seu lugar e nada poderia prepará-la para o pesadelo que se seguiria.

Rick Riordan, autor da série Percy Jackson e os Olimpianos, declarou que Jogos Vorazes é o livro de ação que mais se aproxima da perfeição. Ele não podia estar mais correto. Não há nada – nem sequer um detalhe – que me incomodou, nada que eu faria diferente. A narrativa – em primeira pessoa –, o ritmo, a ação, a descrição – tudo é, magistralmente, impecável.

Uma vez que se pega o livro nas mãos, não há como largá-lo. Como se a temática da obra já não fosse intrigante por si só, a história criada por Suzanne Collins é arrebatadora. Cativante, emocionante e imprevisível – elogios não faltam. Quando se menos espera – BOOM –, todo o fluxo da história se altera. Como escritor, essa é a obra que eu gostaria de ter escrito.

É impossível negar: Jogos Vorazes é um livro violento. Afinal, são crianças sendo forçadas a matar umas às outras. Não há como inserir flores e arco-íris nesse contexto. Todavia, tudo está presente na medida certa. A brutalidade não é gratuita, nem exaltada, mas também não é censurada ou eufemizada. A autora não se rende ao sangue para chamar atenção, porém é ousada em transmitir tudo com um realismo chocante.

Engana-se, contudo, quem acha que ação é o único combustível da trama. A emoção se faz presente em igual proporção. Não podemos nos esquecer também do romance. Romance? Há espaço para o amor durante uma luta sangrenta até a morte? Pode ter certeza de que sim.

Acabo por aqui esta resenha, antes que estrague o enredo revelando mais de seus trunfos. Para você, leitor, reitero: vá agora, correndo, adquirir seu exemplar. Esteja avisado, porém, que uma vez dentro da arena, ninguém nunca mais é o mesmo.



Autoria de F. Pierantoni, retirado de http://www.skoob.com.br/livro/resenhas/106468/mais-gostaram/