domingo, 16 de junho de 2013

Porquê virei à esquerda - I

         Atualmente tá na moda antigos militantes de esquerda, pessoas que lutaram contra a ditadura, narrarem suas experiências de conversão à direita. Eles adoram dizer o quanto eram ingênuos e o quanto amadureceram. Se você não souber do que eu tô falando e tiver estômago, leia as colunas do Arnaldo Jabor. Por isso, neste texto vou fazer o inverso, vou contar como virei à esquerda.

          Nem sempre fui de esquerda, caros e caras. Nem sempre fui feminista. A única coisa que eu sempre fui, desde que me dou por gente, é desconfiado das religiões. Mas também nem sempre fui ateu, demorei a me aceitar como tal. Enfim, hoje estou aqui para falar do meu passado negro.

       Posso falar com propriedade sobre o que é ser manipulado pela grande mídia, porque eu fui, durante muito tempo. Na minha adolescência eu lia o Estadão e via o Jornal Nacional todo dia, lia a Veja sempre que podia. Aí vocês podem imaginar quais eram minhas ideias sobre política. Naquela época, eu não entendia que esses veículos de comunicação expressavam apenas um ponto de vista (conservador), isto é, que eles não eram isentos. Eu achava que eles se resumiam a relatar os fatos.

        Curiosamente, quando eu lia a coluna do Arnaldo Jabor, suas opiniões se encaixavam perfeitamente com a reportagem "isenta" que eu acabara de ler. À noite, eu ligava o Jornal Nacional e lá também as notícias isentas casavam com o ponto de vista do colunista. Por fim, no fim de semana eu lia a Veja, cheia de reportagens "imparciais" e, como cereja no bolo, tinha a coluna do Diogo Mainardi.

          Percebem? Eu via a mesma notícia em três meios diferentes, um repetindo o que o outro dizia, e concluía: só pode ser verdade. 

          Naquela época a internet já existia, mas não era nem sombra do que é hoje. Eu morava numa cidade pequena do interior, onde o avanço da internet demorou um pouco mais para chegar. O orkut estava no início, twitter e facebook não existiam, os blogs que eu acompanho hoje também não. Em resumo: era quase impossível escapar da grande mídia.


          Quase. Na época, eu tinha um amigo que destoava de tudo o que eu ouvia por aí. Ele é de esquerda, petista roxo, vivia no ABC na época das greves históricas do movimento operário liderado pelo Lula. Conversámos muito sobre política. Divergíamos em tudo, obviamente. Mas, ao contrário do que o senso comum prega, que política não se discute, nossas conversas eram civilizadas, regadas a muitas ironias de parte a parte. Acho que ele olhava pra mim e pensava: "pobre jovem que sofreu lavagem cerebral". Eu olhava pra ele e pensava: "bem que o Jabor fala que esse pessoal de esquerda é tudo fanático e cego".

Porquê virei à esquerda - II


          O tempo passou e eu sofri calado, fui embora da minha cidade, fui fazer faculdade em outro estado. Em termos de pensamento político, lá eu me senti em casa. Morava numa cidade muito conservadora (pra vocês terem ideia, lá, em 2010, o Serra teve 70% dos votos no 2º turno). Fazia o curso mais conservador da universidade, Direito. Estava tudo encaminhado para eu me tornar um reaça convicto.

          Mas a vida tem dessas ironias. Foi justamente num meio assim que eu enxerguei a luz.

          Preciso abrir um parênteses. Hoje eu vejo que, na minha essência, eu sempre fui de esquerda. Em 2002, época em que eu não lia jornal, eu fiz campanha pro Lula. Sempre me incomodou o fato de que o dono de uma empresa ganha mil vezes mais que seus funcionários (devo estar chutando baixo ainda). Nunca achei normal a exploração do homem pelo homem. Nos costumes, sempre fui liberal. Nunca concordei com o fato de que um cara que transa com várias mulheres é o fodão e a mulher que faz o mesmo é a vadia. Nunca tive como meta de vida ser rico, nunca achei que dinheiro traz felicidade.

          Meu alinhamento com o discurso de direita da grande mídia se dava no campo da economia e da moralidade pública. Se todos eles diziam que o PT queria amordaçar a imprensa, eu acreditava e repetia. Se todos eles diziam que o governo do PT era o mais corrupto da história, eu acreditava e repetia. Se todos eles diziam que a inflação estava descontrolada, eu acreditava e repetia.

          Em suma, o que eu quero mostrar com esse parênteses é que eu nunca fui um direitista/conservador modelo. Lá no fundo do meu ser, soterrado por esses discursos, eu tinha ideias que são de esquerda. Fecha parênteses.

          Tudo começou quando eu fui fazer estágio num escritório de advocacia que trabalhava majoritariamente com direito do consumidor. Era um ramo do Direito novo para mim, então eu precisei estudar. E estudando direito do consumidor, vários dogmas do liberalismo econômico, que já estavam enraizados em mim, foram ruindo. Ideias como a de que o Estado não deve intervir na economia, de que o mercado se autorregula etc. Ali acendeu uma luz vermelha.

          Mais ou menos na mesma época, eu descobri o blog da Lola (tem o link ali no canto direito). Mudou a minha vida. Lá eu descobri o que era o feminismo. Não tinha nada a ver com a visão deturpada que o senso comum e os conservadores querem nos passar. Lá também foi a primeira vez que eu li pontos de vista diferentes dos que eu estava acostumado sobre política.

          Por fim, veio a cereja no bolo. Eu fui mandado embora. Neste escritório, o chefe fazia questão de frizar que éramos uma família, que no que a gente precisasse poderia contar com ele. Com minha demissão eu percebi que não existia família porra nenhuma, que eu era apenas uma peça numa engrenagem, peça que poderia ser substituída a qualquer momento por qualquer motivo. Aliás, a convivência diária com TODOS os chefes que eu tive foi importantíssima. Todos eram ricos. Um já tinha nascido rico, os demais eram pobres, mas, com muito esforço (e como eles adoravam contar suas histórias de superação), também se tornaram ricos. Era foda ver a visão esnobe que eles tinham sobre muitas coisas. Todos odiavam o Lula.

          Um pouco antes disso, eu já havia percebido o quanto os escritórios de advocacia exploravam os estagiários e os recém-formados. Você faz o trabalho todo, dá o sangue, e no fim quem leva o dinheiro são os sócios do escritório. Isso me indignava, mesmo eu não tendo lido Marx e não sabendo o que era mais-valia (até hoje não li e não sei rs). O mais trágico dessa história é que tem gente que diz: ah, o mundo é assim mesmo, se você se esforçar bastante, um dia vai ser você que vai ter o escritório e vai poder explorar os estagiários.

          Para terminar, quero esclarecer que não acho que quem é de direita/conservador é um alienado como eu fui. Existem casos e casos. Há quem seja direitista convicto, que encarna todos os valores. Eles sabem que existe uma mídia alternativa, mas não querem saber dela. Esses eu respeito. Mas também existem os que vivem numa situação parecida com a minha, que até hoje não descobriram como a grande mídia é tendenciosa. Desses eu tenho pena.

          O que mais chateia nessa história toda é ver que o governo do PT, o que mais sofre com essa oposição da mídia, nunca teve interesse em fazer o projeto do marco regulatório andar. Por essas e por tantas outras estou convicto: ano que vem a Dilma não vai ter o meu voto no 1º turno. E no 2º vou votar nela com o coração apertado.

sexta-feira, 7 de junho de 2013

Meu amigo virou à direita - II

Tô aqui quebrando a cabeça pra tentar entender porque a direita tá com essa paranoia de que todo mundo é de esquerda. Seria má fé ou eles vivem num universo paralelo? Eu apostaria na primeira opção. Me parece que os conservadores estão querendo ganhar adeptos na intimidação. “Olha, é o seguinte, vivemos tempos difíceis, a esquerda dominou geral. Quem discorda deles é massacrado. Precisamos reagir, lembrem que nosso ídolo Nelson Rodrigues dizia que toda unanimidade é burra. Se você ama seu país, vire à direita, precisamos combater o pensamento único que assola nossa pátria”. E tome aquele discurso que eu ouço há dez anos de que o PT vai instaurar uma ditadura no país, que o fascismo é logo ali, que em breve opositores do regime serão executados em praça pública. Essa semana, vendo um vídeo em que o Demétrio Magnoli discursa contra as cotas raciais, eu fiquei com a sensação de que dentro de 20 anos brancos e negros entrarão em guerra civil. Sim, ele sustenta que no Brasil não há racismo e que as cotas vão criá-lo.

O que ocorre é que o pessoal de esquerda tende a ser ativista, o que não ocorre com quem é de direita. Porque eles acham que manifestante é vagabundo, que defender suas idéias com veemência é armar barraco etc. Logo, se alguém diz “adoro piadas de preto”, os ativistas de esquerda caem matando mesmo. Por outro lado, se alguém diz “sou a favor da legalização do aborto”, os conservadores se contorcem por dentro, pensam “onde esse mundo vai parar? E os valores da família?”, mas, em regra, não partem para o confronto. Aí fica essa sensação de que todo mundo é de esquerda.

Precisa ter má fé (ou viver num mundo paralelo) para discordar de que vivemos numa sociedade machista, homofóbica e racista, para ficarmos apenas em três questões. Isto é, o pensamento conservador domina. Os “politicamente incorretos” (que, de incorretos, não têm nada, é a coisa mais fácil do mundo contar piada de negro num país racista) morrem de saudade dos tempos em que podiam destilar seus preconceitos à vontade e ninguém chiava, dos tempos em que as minorias se colocavam em seus lugares, que não tinham voz para protestar. Como atualmente muita gente se conscientizou de que não é muito engraçado fazer “piadas” com a desgraça alheia, os conservadores ficaram desesperados. E aí tome-lhe discurso terrorista, de que o politicamente correto é uma ditadura, que é fascismo e blá-blá-blá. Eu fico pensando: quando um "politicamente incorreto" descolado fala uma merda, é liberdade de expressão. Quando um "politicamente correto" chato faz críticas a ele, é ditadura. Curioso. 

Sabe por que é difícil achar quem se assuma de direita? Porque as bandeiras que eles defendem não são defensáveis. Não entre pessoas com um mínimo de bom senso. Aí, para defender o indefensável, eles se saem com as teses mais estapafúrdias: chamar um negro de macaco é liberdade de expressão e proibi-lo é voltar à ditadura; não existe racismo no Brasil; na ditadura não tinha corrupção, a ditadura foi um mal necessário diante da ameaça comunista, no Brasil tivemos uma ditabranda etc. E, somado a isso, o terrorismo: o país não cresce, a inflação vai voltar, a liberdade de expressão acabou etc.

Seria mais produtivo se muitos direitistas (não todos) dissessem o que vai no íntimo de seus corações: eu quero ter o direito de dizer que gays são promíscuos por natureza, que a AIDS é a punição por eles não seguirem os ditames do livro sagrado, não porque eu sou um defensor da liberdade de expressão, e sim porque eu os acho imorais; eu sou contra cotas nas universidades porque eu acho que cada um tem que saber seu lugar na sociedade, porque não é justo eu ter pagado escola particular a vida inteira pro meu filhinho e vir agora alguém roubar a vaga dele, não é porque não exista racismo no Brasil. Em suma: sou contra todas as reivindicações de todas as minorias porque eu quero que a sociedade continue do jeito que está (ou nem isso, já que eles acham que o mundo tá perdido). O mais irritante no pessoal de direita é que eles não se assumem. Querem sempre florear suas ideias, usam termos difíceis, raciocínios rebuscados (vide o Pondé, ídolo do meu amigo. Se você não tiver consciência de que ele é um conservador, você engole sem pensar tudo o que ele diz. O cara cita Aristóteles, Platão, Rousseau... Você pensa: esse cara é muito mais culto que eu, ele sabe do que tá falando, logo, deve estar certo em tudo o que diz) para tentar esconder que são conservadores. 

Por isso digo ao meu amigo: se você quer ser de direita, problema seu (rs). Mas, por favor, não venha me dizer que está adotando essa filosofia de vida só para ser rebelde, já que todo mundo no Brasil é de esquerda. Rebeldia continua sendo a marca de nós, vermelhinhos. Não à toa, somos chamados de ingênuos. “Quando eu tinha sua idade também queria mudar o mundo. Mas amadureci e vi a vida como ela é”. O triste da história é que o meu amigo pensa que está sendo rebelde, quando, na verdade, está seguindo o curso natural da vida. De esquerda na juventude, conservador na maturidade. Se eu fosse religioso, rezaria para nunca amadurecer.

Meu amigo virou à direita - I

        Vou falar de um amigo que reencontrei esses dias num churrasco.Estávamos lá tomando umas, conversando sobre amenidades, quando ele resolveu falar de política. E eu me surpreendi com as coisas que ele começou a dizer. De início, ressalto que ele é um cara que votou no PT em 2002, 2006 e 2010. “Mas não vou repetir esse erro em 2014”. Ou seja, ele é um esquerdista que se converteu/está se convertendo à direita.

          A justificativa? “Em nome da democracia”. Pra ele, no Brasil temos um pensamento único, unanimidade sobre temas polêmicos. O pensamento de esquerda domina. Quem ousa defender um ponto de vista conservador é linchado. Portanto, ele resolveu virar à direita em nome da pluralidade de idéias, se rebelou contra aquilo que ele acha que todo mundo pensa. 

          Fiquei intrigado com tal afirmação. Comecei a refletir e concluí que um bom teste para ver qual a ideologia dominante no seio da sociedade, ainda que as pessoas nem saibam que por trás de suas opiniões há uma ideologia, seria ver o que o senso comum diz sobre algumas questões:

1-Funcionário público é visto como o cara fodão que passou num concurso ou como um encostado que só quer “mamar nas tetas do governo?”

2-Feminismo prega igualdade entre homens e mulheres ou é o machismo ao contrário? Feminismo é coisa de quem quer uma sociedade mais justa ou é coisa de mulher mal comida e que não tem mais o que fazer?

3-Aborto é visto como questão de saúde pública ou como assassinato de pessoas indefesas e que merece punição?

4-Casamento gay é visto como um direito que deveria ser estendido aos homossexuais ou é uma abominação que vai contra a natureza humana?

5-O serviço público,em geral, é visto como algo prestado satisfatória ou insatisfatoriamente? Caso a resposta seja a primeira opção, a iniciativa privada é melhor ou pior que o serviço público?

6-Direitos humanos devem ser respeitados em qualquer hipótese ou só para humanos direitos?

7-Quem fuma maconha socialmente é visto da mesma forma que quem ingere álcool socialmente ou é visto como maconheiro, vagabundo, drogado?

Frise-se: não estou perguntando qual a sua opinião sobre os temas elencados. O que eu quero saber é como você acha que o cidadão médio responderia a essas perguntas. Eu não tenho nenhuma dúvida de que o senso comum é de direita.

Suponhamos que meu amigo concorde com o que acabei de dizer. Ele dirá: “tudo bem, pode até ser que o senso comum seja de direita, mas nas universidades o pensamento de esquerda dominou geral”.

Discordo novamente. O que existe são cursos tradicionalmente progressistas e cursos tradicionalmente conservadores. Eu, que sou advogado, posso afirmar tranquilamente que 90% dos acadêmicos e professores do curso de Direito tem perfil conservador. O Direito é, em essência, conservador. Marx dizia que o Direito foi criado para garantir o direito de propriedade. Pra vocês terem ideia, até a década de 80 (ontem, portanto) muitos juízes inocentavam réus que haviam matado suas esposas adúlteras, sob o argumento de que os maridos tinham agido em "legítima defesa da honra". Muitos juristas sustentavam a tese de que era impossível um marido estuprar a esposa. Mesmo que houvesse o sexo à força, com violência, eles diziam que era impossível se configurar o crime de estupro, já que a mulher, quando casava, dava o consentimento para o homem "fazer sexo" com ela. Eu poderia dar outros exemplos ainda, mas creio que deu pra sentir o drama.

No curso de Administração de Empresas ocorre o mesmo. No de Economia, idem. Não ignoro que cursos como História e Jornalismo sejam predominantemente de esquerda. Mas, por tudo o que eu disse, fica claro que essa unanimidade ou dominação da esquerda, propalada pelo meu amigo, não existe.

Suponhamos que ele também dê o braço a torcer nesse ponto. Mas ele vai sacar o “o PT está no poder há 10 anos”.

É óbvio que o PT está no poder há um tempão e, no meu sentir, vai continuar mais um bom tempo. O motivo é simples: a vida do povo melhorou nesse período. “É a economia, estúpido”. Não tem nada a ver com uma ideologia de esquerda dominante. Isso para não entrarmos na longa discussão se o governo do PT é, de fato, de esquerda. Pra mim, não é. Um governo de esquerda enfrentaria os fundamentalistas religiosos, postura que refletiria em temas importantíssimos para a nação, tais como aborto, casamento civil igualitário, descriminalização da maconha. Um governo de esquerda procuraria taxar as grandes fortunas. E tantas outras coisas. E não me venham com o célebre “esses são assuntos para o Legislativo”, porque na hora de tentar aprovar a Medida Provisória dos Portos, o governo não mediu esforços.

Eu ainda poderia falar da grande mídia (“mas a Carta Capital é tão tendenciosa quanto a Veja”). Suponhamos que eu concorde com você. Pergunto: quantas pessoas leem Carta Capital e quantas leem Veja? Isso faz uma enorme diferença. A começar pelo espaço que a grande mídia concede aos seus formadores de opinião, tais como Reinaldo Azevedo, Arnaldo Jabor, Merval Pereira, Pondé e tantos outros conservadores. Além disso, Carta Capital nunca teve esquema com Carlinhos Cachoeira.


quarta-feira, 17 de abril de 2013

Vicky Cristina Barcelona


                Diretor: Woody Allen

                Elenco: 

                Puta filmão viu! Queria lembrar quem foi que me disse que não era bom, pra eu ligar xingando.

                Conta a história de duas amigas, Vicky (Rebecca Hall, atriz que eu não conhecia e da qual fiquei fã, tá ótima no papel) e Cristina (Scarlett...suspiros), que decidem passar uma temporada em Barcelona. Vick está fazendo mestrado em cultura catalã e Cristina... bom, digamos que Cristina está indo de acompanhante rs.

                Logo no começo o narrador nos informa (e eu adoro filmes com narrador) que Vicky e Cristina, embora sejam amigas e tenham várias afinidades, têm visões totalmente diferentes do que seja o amor. Vicky é toda certinha, tem tudo muito bem programado em sua vida, não gosta de correr riscos e está noiva de um cara que, na ótima expressão de Cristina, é daqueles produzidos em série. Já Cristina, como diz Vicky, tem a mente de uma adolescente: se sentir o coração bater mais forte, não pensa duas vezes em se jogar, é inconsequente, e sente até algum prazer no sofrimento que tem após algum relacionamento dar errado.

                Um dia, numa exposição de arte, Cristina repara num homem de camisa vermelha, Juan Antonio (Javier Bardem, o sr. Testosterona) e quer saber quem é ele. É informada que se trata de um pintor, recém divorciado, que tinha um casamento conflituoso.

                Saindo da exposição, Vicky e Cristina vão jantar, e lá está o tal pintor. Cristina lança-lhe olhares a noite toda e ele vem até a mesa delas fazer-lhes um convite bem inusitado. Quer que elas, num avião pilotado por ele, viajem até Oviedo, para que ele lhes mostre a cidade. E deixa bem claro que, no que depender dele, o dia terminará com os três na cama.

                Vicky fica ofendidíssima e dá um sermão nele. Já Cristina diz: adoraria conhecer Oviedo. A cena seguinte já mostra os três no avião rs.

                Em Oviedo, os três passam um dia muito agradável, Juan Antonio mostra vários pontos turísticos às duas amigas. À noite, no saguão do hotel, ele as convida para ir até seu quarto. Vicky fica indignada e sobe para seu quarto para dormir.

                Cristina, obviamente, aceita o convite. No quarto, eles começam a se beijar. Quando você acha que virá A cena de sexo, Woody Allen nos prega uma peça. Cristina começa a passar mal e vai ao banheiro vomitar. A próxima cena mostra-a prostrada na cama, com um médico ao seu lado, recomendando repouso absoluto. É que Cristina tem úlcera e, sendo tão inconsequente, não pensou duas vezes para se entupir de comida e bebida na noite passada.

                     

                Vick e Juan, sem opções, têm de conviver sem Cristina. Passam mais um dia visitando os pontos turísticos da cidade. Juan desiste de seduzi-la e assim eles começam a conversar, Vick abre a guarda e começa a achar que ele não é esse babaca que ela achava. À noite eles jantam (todas as refeições no filme são regadas a muito vinho) e vão assistir a uma apresentação de violão espanhol. Durante o concerto, Vick e Juan trocam olhares. No fim da noite, ao se despedir, eles se beijam e acabam transando.

                Até aqui deu pra falar do filme sem entregar muita coisa. Se você quer assistir e não gosta de saber antecipadamente o que vai acontecer, pare por aqui. 

                Certamente a intenção de Woody Allen foi balançar as certezas que muitos têm em matéria de relacionamentos.

                A primeira coisa que ele faz é criticar um relacionamento todo certinho como o de Vicky e seu noivo. Noivo que, por sinal, é um chato. Só fala de coisas materiais, do quanto pode ganhar, do que vai comprar etc. E Vick se interessa por arte (um dos motivos de sua paixonite por Juan). É o que acontece em Meia Noite em Paris, lá com os papéis invertidos. Lá o cara é artista, sensível e sua noiva é a típica americana consumista. O recado está dado por Woody.

           Bom, se ele critica esse relacionamento certinho, natural que pensemos que ele exalte relacionamentos não convencionais. Não é bem assim.

          A começar pelo casamento de Juan e Maria Elena (Penélope Cruz, que dá um show de interpretação. Ela rouba a cena), que não deu certo. Dois artistas, duas almas sensíveis, sem maiores apegos às convenções sociais, tem tudo para dar certo, não? Não! Pelo menos não se uma das partes do relacionamento for uma desequilibrada, como é Maria Elena. Juan Antonio pode ser muito sensível, mas não deixa de ter os pés no chão. Como ele diz a Cristina a certa altura: “eu sou o elo de Maria com a realidade”.

                Então talvez Woody esteja querendo nos dizer que a monogamia não dá certo, vide o triângulo formado por Cristina, Maria e Juan, que no começo funciona que é uma beleza. É bonito de se ver.



                Mas tampouco. Com o passar do tempo, Cristina sente um aperto no peito, sente que precisa mudar de ares para se descobrir, sente que aquela relação a três não lhe satisfaz (a cena em que ela comunica Juan e Maria que está indo embora é ótima. Já falei que Penélope tá um show nesse filme?).



                No fim das contas, sabem qual é o recado que eu entendi? Que o ser humano é complexo demais para se satisfazer com uma fórmula de relacionamento. Todo tipo de relação tem suas vantagens e desvantagens. Monogamia pode ser sufocante e entediante, relacionamentos abertos podem gerar insegurança etc. Não se pode ter tudo na vida.

                De todo modo, é legal essa crítica aos padrões convencionais de relações. Somos ensinados desde pequenos a acreditar em almas gêmeas e todos esses mitos românticos, e que qualquer coisa que fuja a esse padrão é imoral. Como se sabe, a monogamia foi criada com vistas a proteger o patrimônio do pater familias, não foi concebida pensando no amor. Não estou dizendo que a monogamia é uma porcaria, que o casamento está falido, apenas digo que ela não é única forma de ser feliz, que vai depender de cada um encontrar sua "fórmula do amor".

               

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Rede Globo consegue o que a ditadura não conseguiu: calar a imprensa alternativa

Retirado de http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/_ed740_globo_quer_calar_a_imprensa_alternativa

Por Luiz Carlos Azenha



Meu advogado, Cesar Kloury, me proíbe de discutir especificidades sobre a sentença da Justiça carioca que me condenou a pagar 30 mil reais ao diretor de Central Globo de Jornalismo, Ali Kamel, supostamente por mover contra ele uma “campanha difamatória” em 28 posts do Viomundo, todos ligados a críticas políticas que fiz a Kamel em circunstâncias diretamente relacionadas à campanha presidencial de 2006, quando eu era repórter da Globo.
Lembro: eu não era um qualquer, na Globo, então. Era recém-chegado de ser correspondente da emissora em Nova York. Fui o repórter destacado para cobrir o candidato tucano Geraldo Alckmin durante a campanha de 2006. Ouvi, na redação de São Paulo, diretamente do então editor de economia do Jornal Nacional, Marco Aurélio Mello, que tinha sido determinado desde o Rio que as reportagens de economia deveriam ser “esquecidas”– tirar o pé, foi a frase – porque supostamente poderiam beneficiar a reeleição de Lula.
Vi colegas, como Mariana Kotscho e Cecília Negrão, reclamando que a cobertura da emissora nas eleições presidenciais não era imparcial.
Um importante repórter da emissora ligava para o então ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, dizendo que a Globo pretendia entregar a eleição para o tucano Geraldo Alckmin. Ouvi o telefonema. Mais tarde, instado pelo próprio ministro, confirmei o que era também minha impressão.
Pessoalmente, tive uma reportagem potencialmente danosa para o então candidato a governador de São Paulo, José Serra, censurada. A reportagem dava conta de que Serra, enquanto ministro, tinha autorizado a maior parte das doações irregulares de ambulâncias a prefeituras.
Quando uma produtora localizou no interior de Minas Gerais o ex-assessor do ministro da Saúde Serra, Platão Fischer-Puller, que poderia esclarecer aspectos obscuros sobre a gestão do ministro no governo FHC, ela foi desencorajada a perseguí-lo, enquanto todos os recursos da emissora foram destinados a denunciar o contador do PT Delúbio Soares e o ex-ministro da Saúde Humberto Costa, este posteriormente absolvido de todas as acusações.
Mentiras e ilações
Tive reportagem sobre Carlinhos Cachoeira – muito mais tarde revelado como fonte da revistaVeja para escândalos do governo Lula – ‘deslocada’ de telejornal mais nobre da emissora para o Bom Dia Brasil, como pode atestar o então editor Marco Aurélio Mello.
Num episódio específico, fui perseguido na redação por um feitor munido de um rádio de comunicação com o qual falava diretamente com o Rio de Janeiro: tratava-se de obter minha assinatura para um abaixo-assinado em apoio a Ali Kamel sobre a cobertura das eleições de 2006.
Considero que isso caracteriza assédio moral, já que o beneficiado pelo abaixo-assinado era chefe e poderia promover ou prejudicar subordinados de acordo com a adesão.
Argumentei, então, que o comentarista de política da Globo, Arnaldo Jabor, havia dito em plena campanha eleitoral que Lula era comparável ao ditador da Coréia do Norte, Kim Il-Sung, e que não acreditava ser essa postura compatível com a suposta imparcialidade da emissora. Resposta do editor, que hoje ocupa importante cargo na hierarquia da Globo: Jabor era o “palhaço” da casa, não deveria ser levado a sério.
No dia do primeiro turno das eleições, alertado por colega, ouvi uma gravação entre o delegado da Polícia Federal Edmilson Bruno e um grupo de jornalistas, na qual eles combinavam como deveria ser feito o vazamento das fotos do dinheiro que teria sido usado pelo PT para comprar um dossiê contra o candidato Serra.
Achei o assunto relevante e reproduzi uma transcrição – confesso, defeituosa pela pressa – no Viomundo.
Fui advertido por telefone pelo atual chefão da Globo, Carlos Henrique Schroeder, de que não deveria ter revelado em meu blog pessoal, hospedado na Globo.com, informações levantadas durante meu trabalho como repórter da emissora.
Contestei: a gravação, em minha opinião, era jornalisticamente relevante para o entendimento de todo o contexto do vazamento, que se deu exatamente na véspera do primeiro turno.
Enojado com o que havia testemunhado ao longo de 2006, inclusive com a represália exercida contra colegas – dentre os quais Rodrigo Vianna, Marco Aurélio Mello e Carlos Dornelles – e interessado especialmente em conhecer o mundo da blogosfera – pedi antecipadamente a rescisão de meu contrato com a emissora, na qual ganhava salário de alto executivo, com mais de um ano de antecedência, assumindo o compromisso de não trabalhar para outra emissora antes do vencimento do contrato pelo qual já não recebia salário.
Ou seja, fiz isso apesar dos grandes danos para minha carreira profissional e meu sustento pessoal.
Apesar das mentiras, ilações e tentativas de assassinato de caráter, perpetradas pelo jornal O Globo e colunistas associados de Veja, friso: sempre vivi de meu salário. Este site sempre foi mantido graças a meu próprio salário de jornalista-trabalhador.
Monopólio informativo
O objetivo do Viomundo sempre foi o de defender o interesse público e os movimentos sociais, sub-representados na mídia corporativa. Declaramos oficialmente: não recebemos patrocínio de governos ou empresas públicas ou estatais, ao contrário da Folha, de O Globo ou do Estadão. Nem do governo federal, nem de governos estaduais ou municipais.
Porém, para tudo existe um limite. A ação que me foi movida pela TV Globo (nominalmente por Ali Kamel) me custou R$ 30 mil reais em honorários advocatícios.
Fora o que eventualmente terei de gastar para derrotá-la. Agora, pensem comigo: qual é o limite das Organizações Globo para gastar com advogados?
O objetivo da emissora, ainda que por vias tortas, é claro: intimidar e calar aqueles que são capazes de desvendar o que se passa nos bastidores dela, justamente por terem fontes e conhecimento das engrenagens globais.
Sou arrimo de família: sustento mãe, irmão, ajudo irmã, filhas e mantenho este site graças a dinheiro de meu próprio bolso e da valiosa colaboração gratuita de milhares de leitores.
Cheguei ao extremo de meu limite financeiro, o que obviamente não é o caso das Organizações Globo, que concentram pelo menos 50% de todas as verbas publicitárias do Brasil, com o equivalente poder político, midiático e lobístico.
Durante a ditadura militar, implantada com o apoio das Organizações Globo, da Folha e do Estadão – entre outros que teriam se beneficiado do regime de força – houve uma forte tentativa de sufocar os meios alternativos de informação, dentre os quais destaco os jornais Movimento e Pasquim.
Hoje, através da judicialização de debate político, de um confronto que leva para a Justiça uma disputa entre desiguais, estamos fadados ao sufoco lento e gradual.
E, por mais que isso me doa profundamente no coração e na alma, devo admitir que perdemos. Não no campo político, mas no financeiro. Perdi. Ali Kamel e a Globo venceram. Calaram, pelo bolso, o Viomundo.
Estou certo de que meus queridíssimos leitores e apoiadores encontrarão alternativas à altura. O certo é que as Organizações Globo, uma das maiores empresas de jornalismo do mundo, nominalmente representadas aqui por Ali Kamel, mais uma vez impuseram seu monopólio informativo ao Brasil.
Eu os vejo por aí.
PS do Viomundo: Vem aí um livro escrito por mim com Rodrigo Vianna, Marco Aurelio Mello e outras testemunhas – identificadas ou não – narrando os bastidores da cobertura da eleição presidencial de 2006 na Globo, além de retratar tudo o que vocês testemunharam pessoalmente em 2010 e 2012.
PS do Viomundo 2: Descreverei detalhadamente, em breve, como O Globo e associados tentaram praticar comigo o tradicional assassinato de caráter da mídia corporativa brasileira.

quinta-feira, 21 de março de 2013

A direita está presa à pauta dos anos 90. Mas o que a esquerda pode nos oferecer?

Retirado de http://www.cartacapital.com.br/politica/a-pauta-das-eleicoes/



Iniciado com um ano e meio de antecedência, o debate sobre as eleições presidenciais de 2014 demonstra o raquitismo político ao qual o eleitor brasileiro se -encontra submetido. Já sabemos de antemão quais devem ser os candidatos a presidente. Ainda é difícil, porém, encontrar pautas de debates que poderiam permitir ao País sintetizar novas soluções para seus problemas.
Foto: Dida Sampaio/Estadão Conteúdo
Foto: Dida Sampaio/Estadão Conteúdo
Por enquanto, sabemos apenas que o candidato tucano Aécio Neves está disposto a dar um salto para trás no tempo e recuperar o ideário liberal que alimentou seu partido nos anos 1990, inclusive ao trazer os mesmos nomes de sempre para pensar seu programa de governo. Como se nada tivesse ocorrido no mundo nos últimos 15 anos, como se o modelo liberal não tivesse naufragado desde a crise de 2008, o candidato tucano demonstra que a guinada conservadora do chamado partido “social-democrata” brasileiro é mesmo um horizonte terminal. Alguns partidos social-democratas europeus (como o PS francês, o SPD alemão e os próprios trabalhistas britânicos) procuraram ao menos ensaiar certo distanciamento dos ideais da terceira via, hegemônicos na década que Tony Blair vendia ao mundo sua cool Britania. Mas o caso brasileiro parece, de fato, completamente perdido.
Há de se perguntar, no entanto, o que poderia ser uma pauta da esquerda para as próximas eleições. Se aceitarmos certo esgotamento do modelo socioeconômico e político que vigorou no Brasil na última década sob o nome de “lulismo”, então a boa questão será: como a esquerda pode pensar o pós-lulismo?
Neste cenário, três questões seriam eixos privilegiados de debate. Primeiro, o esgotamento do lulismo implica necessidade de pensar um novo modelo de distribuição de renda e de combate à desigualdade. O modelo lulista, baseado na construção de redes de seguridade social e aumento real do salário mínimo, chega ao fim por não poder combater os processos que produzem, atualmente, a limitação da ascensão social dos setores beneficiados pelas políticas governamentais. Pois se os salários atuais são erodidos em seu poder de compra pelos gastos em saúde e educação, além do alto preço dos serviços e produtos em uma economia, como a brasileira, oligopolizada até a medula, um novo modelo de combate à desigualdade só pode passar pela construção de algo próximo àquilo que um dia se chamou de Estado do Bem-Estar Social, ou seja, um Estado capaz de garantir serviços de educação e saúde gratuitos, universais e de alta qualidade.
Nada disso está na pauta das discussões atuais. Qual partido apresentou, por exemplo, um programa crível à sociedade no qual explica como em, digamos, dez anos não precisaremos mais pagar pela educação privada para nossos filhos? Na verdade, ninguém apresentou porque a ideia exigiria uma proposta de refinanciamento do Estado pelo aumento na tributação daqueles que ganham nababescamente e contribuem pouco. Algo que no Brasil equivale a uma verdadeira revolução armada. Ou seja, um programa que nos anos 1950 e 1960 era visto como simploriamente reformista é revolucionário no Brasil atual.
Segundo ponto: o esgotamento do lulismo significa o aumento exponencial do desencantamento político em razão do modelo de coalização e “governabilidade” praticado desde o início da Nova República. Nesse sentido, ele exige a apresentação de uma pauta abrangente e corajosa de absorção das demandas por democracia direta nos processos de gestão do Estado e transparência ouvida cada vez mais em várias partes do mundo. Esse é um momento privilegiado para a esquerda retomar seu ideário de soberania popular. Ele não se acomoda aos regimes de conselhos consultivos que se tentou ultimamente, mas exige processos efetivo de transferência de poder decisório para instâncias de democracia direta.
Terceiro ponto: ao seguir uma lógica típica norte-americana, o pensamento conservador nacional tenta se recolocar no centro do debate por meio da inflação de pautas de costumes e de cultura. Tal estratégia só pode ser combatida pela aceitação clara de tais pautas de costumes, mas como eixo central de uma política de modernização social. Cabe à esquerda dizer alto e bom som que temas como casamento igualitário, direito ao aborto e políticas de combate à desigualdade racial são pontos inegociáveis a ser implementados com urgência. Dessa forma, fecha-se um círculo no qual uma pauta de modernização socioeconômica, política e social pode guiar nossos debates.

quinta-feira, 14 de março de 2013

A Queda



Diretor: Oliver Hirschbiegel
Elenco: Bruno Ganz, Alexandra Maria Lara, Corinna Harfouch, Ulrich Matthes, Juliane Köhler, Heino Ferch, Christian Berkel, Matthias Habich, Thomas Kretschmann, Michael Mendl, André Hennicke, Ulrich Noethen, Birgit Minichmayr.


     O filme trata dos últimos lances da 2ª Guerra Mundial. Berlim está prestes a ser invadida pelos russos, o exército alemão está se esfarelando e, mesmo assim, Hitler não se dá por vencido. O enredo não revela nada de novo para quem se interessa pela 2ª Guerra, mas ainda assim causa algum espanto ver a rotina no bunker. O fanatismo que o nazismo despertava na maioria das pessoas, a arrogância de Hitler, as crueldades que são potencializadas numa guerra etc. Para quem, como eu, é apaixonado pelo tema, é obra que deve ser vista.

quarta-feira, 6 de março de 2013

Viver melhor com menos.

     Retirado de http://planetasustentavel.abril.com.br/noticia/atitude/conteudo_486606.shtml?func=2



Imagine como seria conviver mais com a família e os amigos e ainda ter tempo para se dedicar às atividades prediletas. Não, não se trata de férias, mas de uma nova rotina. E o que seria preciso para colocá-la em prática? Mudança de foco: deixar de pautar as escolhas pelo poder de compra e priorizar a qualidade de vida. Ou seja, parar de correr atrás do supérfluo e dar mais atenção ao que é realmente necessário. 

A tônica aqui é a simplicidade, a redescoberta de prazeres frugais, como receber os amigos e cozinhar para eles em vez de comprar tudo pronto ou sair para jantar. Difícil? Talvez, mas bastante compensador. 

Para a terapeuta e professora de filosofia da PUC-SP Dulce Critelli, a sociedade atual vive uma intensa mercantilização, já que todos os aspectos se resolvem pelo ato de consumir algo. "A gente não se dá conta, mas o consumo acaba sendo nosso motor de vida. Sem tempo para ficar com os filhos, compramos um brinquedo para eles. Se estamos tristes, vamos ao shopping. O consumo não é ruim, sem ele é impossível viver. O problema é agir em função disso, criando uma dependência dos signos externos", explica. 

Embora gere satisfação imediata, um estilo de vida baseado no poder de compra acaba por se revelar vazio. Foi o que descobriu a publicitária paulistana Suzana Pamponet, 39 anos. Acostumada a um padrão elevado e a uma rotina bastante estressante, ela viveu, ao lado do marido, Reinaldo, uma verdadeira revolução de valores. "Há seis anos, tínhamos dinheiro, sucesso profissional e todas as facilidades que se podem comprar. Gostávamos de viajar, de ir a bons restaurantes, mas não tínhamos tempo para cuidar de nós mesmos nem da família. Uma crise de coluna fez meu marido repensar a carreira. Ele deixou o alto cargo que ocupava em uma empresa e criou a ONG Eletrocooperativa, que forma garotos carentes", conta. Aos poucos, Suzana foi sendo contagiada pela transformação do marido. "Passamos a nos perguntar se tudo o que tínhamos era mesmo necessário. Percebi que eu não precisava de mais um sapato só porque a loja havia lançado um modelo novo." 

Quando estava grávida da segunda filha, Suzana resolveu sair da agência de propaganda em que trabalhava para se juntar ao marido na ONG. "Nossa renda diminuiu, mas os ajustes no orçamento não prejudicam nosso conforto, apenas cortamos o excesso. Vendemos o apartamento no Morumbi (bairro de luxo) e fomos morar perto do escritório, na Vila Madalena (bairro boêmio). Tínhamos dois carros, ficamos somente com um. Hoje, vamos trabalhar a pé e usamos o mesmo veículo para ir ao clube e à academia. Apesar de mais modesta, nossa rotina ganhou em qualidade, pois temos tempo para conviver", afirma. 

Os hábitos de consumo também mudaram. "Antes, não tinha um minuto para ir ao supermercado, comprava pela internet. Hoje, vou pessoalmente para comparar os preços. Levo meus filhos, Tomás, de 5 anos, e Joana, de 2, à feira e é bem divertido. Quero ensinar a eles que o conceito de riqueza vai além do dinheiro, inclui as relações, os amigos e o meio ambiente." 

A busca por um modo de viver mais focado na essência do que na aparência não começou agora. Em plenos anos 1980 - quando o estilo yuppie consumista imperava no mundo -, o ativista americano Duane Elgin lançou o livro Simplicidade Voluntária (Ed. Cultrix). Ele já previa a necessidade de mudar. Cada um de nós sabe em que aspectos nossa vida é desnecessariamente complexa. Simplificar é aliviar nossa carga. É estabelecer um relacionamento mais direto, despretensioso e desimpedido em todos os aspectos", afirma o autor. Diferentemente do que muita gente pode pensar, descomplicar não significa fazer voto de pobreza. "Ninguém é pobre porque quer, mas só é simples quem decide ser. Quando fazemos essa opção de forma consciente e livre, reduzimos a demanda por elementos externos, que só proporcionam uma dose limitada de satisfação", explica o terapeuta Jorge Mello, um dos principais divulgadores da simplicidade voluntária no Brasil. 

DESEJOS AUTÊNTICOS 
Segundo Dulce Critelli, muitas pessoas confundem felicidade com a satisfação gerada pela aquisição de um produto. Daí, acabam descontando sentimentos como o medo, a ansiedade ou a insegurança em compras. Afinal, vende-se tudo no mercado, até segurança e alívio para qualquer dor. Mas o mundo das apólices e dos remédios não trouxe felicidade nem garantiu a diminuição da violência, como sabemos. O erro" não é da indústria, mas da ideia de que a alegria poderia ser fabricada como mercadoria. Não pode. 

Uma pesquisa recente realizada na Universidade de Hertfordshire, na Inglaterra, demonstrou que mulheres na TPM gastam mais em compras compulsivas. Os cientistas afirmam se tratar de um mecanismo de compensação para aliviar as emoções negativas do período. "O consumo exagerado é baseado na saciedade, assim como a fome. O problema é que esse sistema é cíclico e, portanto, inesgotável", diz Dulce. E não custa pensar: nossa menstruação não é problema, é natureza. E é da nossa natureza feminina ser criativa - saberemos achar modos mais sustentáveis de lidar com nossas tensões. Sejam elas hormonais ou não. 

Na opinião da terapeuta, quanto mais segura de suas potencialidades uma pessoa é, menos dependente dos elementos externos ela será. Isso significa que, em períodos de crise, como agora, mesmo que perca o poder de compra e o status, não perderá de vista suas qualidades, seus desejos autênticos e as reais possibilidades de dar a volta por cima. Conquistar essa segurança passa pela revisão de valores. Do que a gente precisa mesmo? Gente bacana por perto, trabalho que faça sentido e em que nosso talento seja valorizado, ar fresco, sol, música, segurança de ser amada e não segurança armada. Simples assim. 

GAIATOS NO NAVIO 
Acontece que o século 20 foi marcado pelo American way of life, que se resumia em trabalhar, ganhar e comprar. O estilo de vida americano ganhou força e espalhou-se por todo o mundo capitalista, ancorado nos apelos da publicidade. Em um planeta lotado de inovações tecnológicas e anúncios sedutores, que associam produtos a status, sensualidade, poder e conforto, ficava difícil remar contra a maré. Mas agora o barco afundou, o consumo exagerado trouxe consequências desastrosas, como o aquecimento global e a ameaça de esgotamento dos recursos naturais. 

"Esse modelo está esgotado porque não faz bem ao planeta e não traz felicidade. As pessoas descobriram que as cenas das propagandas não são reais", afirma a consultora de sustentabilidade Rita Mendonça, diretora-presidente do Instituto Romã e autora do livro Como cuidar do seu meio ambiente (Ed. Bei). 

Do ponto de vista econômico, esse tipo de prática gerou um grave endividamento. "O resultado é a crise que vivemos hoje", lembra Dulce. Quais seriam então as novas leis do consumo para o século 21? "É importante ter autonomia para pensar e agir. Poder escolher o que se compra é mais valioso do que poder comprar o que se quer. E uma postura mais consciente pode se revelar bem prazerosa", garante Rita Mendonça. 

"Quando recuperamos a lucidez, percebemos que o mais simples é bom para o corpo, o bolso e o ambiente. Isso beneficia nossa saúde integral", diz Jorge Mello.Para Dulce Critelli, não se trata apenas de escolher quanto ou o que consumir, mas que pessoa você quer ser. "Um consumidor voraz, que não pensa em consequências, perde a sua humanidade e passa a viver como as amebas. Melhor seria assumir a vida em todas as suas possibilidades, aprender a lidar com a morte, o envelhecimento, as perdas e as dores sem adotar mecanismos de fuga", garante. Grandes artistas sabem disso, temos de reativar o farol que eles nos deixaram, lembra Jorge Mello. "Picasso disse que a arte é a eliminação do desnecessário e Leonardo da Vinci afirmou que a simplicidade é o mais elevado grau da sofisticação." 

"Quero ensinar aos meus filhos que o conceito de riqueza vai além do dinheiro. Inclui as relações e o meio ambiente" Suzana Pamponet, da ONG Eletrocooperativa 

COMPRADORA CONTEMPORÂNEA 
• Como evitar as armadilhas do consumo e manter a compostura diante das vitrines? Segue um guia de etiqueta para os tempos modernos 



• Aprenda a diferenciar necessidades e desejos e observe o grau de satisfação proporcionado pela compra de um item supérfluo. Você verá que essa alegria dura muito pouco e provoca desperdício. 



• Algum produto chamou sua atenção? Reflita até que ponto seu estilo de vida está vinculado a trabalhar para pagar contas e prestações. Vale a pena fazer mais uma dívida? 



• O que você consome revela seus valores. Hoje em dia pega muito mal levar em conta apenas o preço do produto e desprezar o impacto que o consumo causará ao ambiente ou às pessoas.


 
• Seja poderosa mesmo. É você quem manda, não o vendedor, a propaganda, o corretor etc. No século 20, poderosa era considerada a mulher que podia comprar qualquer coisa. Hoje, poderosa é quem sabe escolher e compra apenas o que quer. 



• O consumo sustentável baseia-se na aplicação dos cinco erres (reflita antes de comprar, recuse o que é desnecessário, reduza o que é excessivo, reutilize sempre que possível e recicle o que não tem mais utilidade). 

CONSULTORES Jorge Mello, Duane Elgin e Rita Mendonça

terça-feira, 5 de março de 2013

Dez mitos sobre os introvertidos


Do blog de Paulo Gurgel Carlos da Silva, no Portal LN
1 - Os introvertidos não gostam de falar.
Isto não é verdade. Introvertidos simplesmente não falam a menos que tenham algo a dizer. Eles odeiam conversa fiada. Falam, e falam muito, quando o assunto é algo em que estão interessados.
2 - Os introvertidos são tímidos.
Timidez não tem nada a ver com introversão. Introvertidos não têm necessariamente medo das pessoas. O que eles precisam é de um motivo para interagir. Eles não interagem só por interagir. Se você quer falar com um introvertido, basta começar a falar. Não se preocupe em ser educado.
3 - Os introvertidos são rudes.
Introvertidos não costumam ver razões para rodeios com gentilezas sociais. Eles desejam apenas que todos sejam verdadeiros e honestos. Infelizmente, isto não acontece na maioria das vezes, e eles podem ser muitos pressionados a se ajustar, o que é cansativo para eles.
4 - Os introvertidos não gostam de pessoas.
Pelo contrário, introvertidos valorizam intensamente os poucos amigos que têm. Se você tem um amigo introvertido, pode considerá-lo um amigo de fato e, provavelmente, você terá nele um leal aliado para a vida. Uma vez que você ganhou o seu respeito como sendo uma pessoa de "conteúdo", poderá contar com ele.
5 - Os introvertidos não gostam de estar em público.
Nonsense. Introvertidos só não gostam de estar em público o tempo todo. Eles também gostam de evitar as complicações que estão envolvidas em atividades públicas. Eles captam dados e experiências muito rapidamente e, como resultado, não precisam estar "lá" por muito tempo para "pegá-los." Logo, estão prontos para ir recarregar em casa, e processá-los todos. Na verdade, a recarga é absolutamente crucial para os introvertidos.
6 - Os introvertidos sempre querem estar sozinhos.
Introvertidos sentem-se perfeitamente confortáveis com seus próprios pensamentos. Eles pensam muito. Eles devaneiam. Eles gostam de ter problemas para trabalhar, quebra-cabeças para resolver. Mas eles também conseguem ficar na solidão, se não há com quem compartilhem suas descobertas. Eles anseiam por uma relação autêntica e sincera com uma pessoa de cada vez.
7 - Os introvertidos são estranhos.
Introvertidos muitas vezes são individualistas. Eles não seguem a multidão. Eles preferem ser valorizados por suas novas formas de vida. Eles pensam por si mesmos e, por causa disso, muitas vezes desafiam a norma. Eles não tomam a maioria de suas decisões, baseando-se no que é popular ou naquilo que está na moda.
8 - Os introvertidos são nerds e distantes.
Introvertidos são pessoas que primeiramente olham para dentro, atentos a seus pensamentos e emoções. Não é que eles sejam incapazes de prestar atenção ao que está acontecendo em torno deles, é que o seu mundo interior é muito mais estimulante e gratificante.
9 - Os introvertidos não sabem como se relaxar e se divertir.
Introvertidos tipicamente relaxam em casa ou na natureza, e não em locais públicos movimentados. Eles não são candidatos a emoções como os viciados em adrenalina. Se houver muita conversa e barulho acontecendo, eles "se fecham". Seus cérebros são muito sensíveis a um neurotransmissor chamado dopamina. Introvertidos e extrovertidos apresentam neurovias dominantes diferentes.
10 - Os introvertidos podem mudar e tornar-se extrovertidos.
Um mundo sem introvertidos seria um mundo com poucos cientistas, músicos, artistas, poetas, cineastas, médicos, matemáticos, escritores e filósofos.
Leitura recomendada
The Introvert Advantage (How To Thrive in an Extrovert World), por Marti Laney

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Conservadorismos, manipulação e medo.


Sempre que aparece no horizonte uma mínima possibilidade de mudança no status quo e, ainda que essa modificação se apresente como benéfica para grupos de pessoas tradicionalmente preteridas de seus direitos mais básicos, surgem sempre, como contraponto, os argumentos conservadores. Os defensores da não-mudança aparecem, então, dispostos a provar, por meio dos mecanismos retóricos que lhe são peculiares, que as inovações propostas são inúteis, equivocadas ou notoriamente danosas à sociedade.
Parece-me tarefa das mais difíceis definir, em linhas precisas e universais, o que vem a ser o pensamento conservador ou quais, exatamente, seriam suas premissas. Se, no entanto, eu tivesse que me arriscar a esboçar um aspecto constituinte desse tipo de mentalidade, diria que o conservadorismo tende a mesclar um permanente mal estar com a situação presente com um receio gigantesco de qualquer mudança com algum traço de ineditismo. Por isso, creio, o pensamento conservador ora aponta para o imobilismo, para a permanência das coisas em seu atual estado, ora para o regresso, com a adoção de fórmulas conhecidas que, alterando a situação política e social atual, pretendem apenas recuperar ou reavivar no presente, um modelo ou referência pretérita.
Os conservadores, penso, são pessoas essencialmente desencantadas com a humanidade e descrentes, em maior ou menor medida, do protagonismo histórico da espécie humana nas transformações culturais ou sociais. Esse desencanto os leva a crer que toda e qualquer mudança pensada por e para as pessoas são farsas premeditadas para servir aos apetites egoístas de uns poucos ou, quando muito, tendem sempre a se desnaturar, gerando uma nova situação sempre pior do que anterior. Talvez devido a essa descrença, a esse melancólico desencanto, são os conservadores presas fáceis da atemporalidade e da segurança dos dogmas religiosos e de teorias econômicas, históricas e sociológicas que, despindo a humanidade de qualquer autonomia sobre o seu destino e suas vontades, elegem, como força motriz, das mudanças alguns entes abstratos como, por exemplo, uma divindade ou a “mão invisível” do mercado.
Muitas vezes, a crítica conservadora, quando bem embasada, pode ajudar a prevenir a sociedade dos possíveis danos oriundos de mudanças que, por serem ou parecerem urgentes, acabaram sendo elaboradas sem que se sopesassem os possíveis danos colaterais de sua implementação. Na verdade, o conservadorismo aguçado, elaborado e crítico funciona como um contrapeso que, se não é sempre bem visto por aqueles para quem as mudanças urgem, ajudam, pelo menos, a enriquecer e lapidar propostas que podem alterar beneficamente a sociedade. O medo dos conservadores, em sua verve detalhista e dialógica, pode sim, por tudo isso, contribuir bastante para a solidificação e esclarecimento de mudanças necessárias. Nesse sentido, dar ouvidos a certas posições conservadoras é parte do diálogo democrático e não se está a dizer, em nenhum momento, que opiniões de espectro conservador devam ser sempre descartadas.
Há, porém, uma gama de situações e de contextos sociais, jurídicos e culturais em que os conservadorismos, muitas vezes de forma irrefletida, atuam como álibis para omissões estatais criminosas ou como endosso para situações de fato notoriamente injustas. Diante de questões muitas vezes discutidas a exaustão e que pedem mudanças urgentes na cultura, nas leis e nas práticas sociais, certos conservadorismos, usando de catastrofismos, teorias conspiratórias e falácias consequencialistas absurdas, acabam agindo como avalistas para a perpetuação de violências, injustiças e indignidades. São momentos em que os aspectos mais saudáveis do medo ou a desconfiança relativa ao novo, dão lugar à sua face irracional, patológica e nociva, beirando o delírio, a negação da realidade e dando vazão a uma discussão que, extrapolando o âmbito da racionalidade política, resvala para a guerra mais suja  contra os direitos alheios.
Embora possa parecer que eu estou exagerando, pode-se perceber, na contramão das discussões mais atuais, das estatísticas e mesmo da realidade sensível, um afã negacionista, de cores nitidamente conservadoras (que têm por intuito impedir mudanças em diferentes campos) sobre situações gravíssimas e que merecem pronto remédio legislativo, político e pedagógico.
Nega-se a existência de racismo no Brasil para impedir a implementação das políticas de cotas; nega-se que nossa cultura tradicionalmente machista acabou relegando às mulheres a um status de inferioridade cultural e de sujeição à violência alarmante; nega-se a existência de preconceito contra os homossexuais brasileiros muitas vezes na mesma frase em que se prescreve a eles ou elas limites para suas condutas e afetos para impedir a criminalização da discriminação por orientação sexual; nega-se o componente social da violência e da criminalidade ao mesmo tempo em que se clama por penas mais duras, mais penitenciárias e um estado mais policialesco. Nega-se a tudo, desenfreadamente, apenas para que as coisas permaneçam como estão, para que as mudanças, por mais necessárias e urgentes que sejam, simplesmente não venham.
Ao lado das negações, criam-se também teorias, invertem-se os pólos, transformam-se as minorias de direitos em algozes da liberdade.  Acusam as feministas de odiarem e de desejarem escravizar os homens; os negros de quererem para si privilégios e não direitos; os homossexuais de integrarem uma misteriosa maçonaria com o intuito de ceifar a religião; as minorias, de forma geral de tolherem a liberdade de expressão de comediantes que regurgitam preconceitos abjetos.
Em todas essas atitudes, percebe-se que o medo irracional do novo fala mais alto do que a disposição ao diálogo, ao entendimento dos anseios e necessidades do outro que é visto, aqui, como uma ameaça. Nem sempre o medo, aqui, deve ser entendido como um sentimento ingênuo, porém. Muitos desses argumentos, repetidos muitas vezes por pessoas que genuinamente temem as mudanças, são formulados por pessoas que têm interesses mais escusos e personalistas na conservação do atual estado de coisas.
Devemos nos lembrar que o medo é um campo fértil para a manipulação, sendo fartos na história mundial os exemplos em que o direcionamento dos receios da população foram direcionados contra um “inimigo” inventado por uma retórica catastrófica com o prosaico intuito de angariar ou manter nas mãos de alguns poucos, poderio político e econômico. É  a forma como operam as ditaduras, as potências imperialistas, os líderes carismáticos e, certamente, é algo a se ter em mente quando alguém lhe apresenta, como argumento para a manutenção de um certo status quo, uma desculpa fácil ou um inimigo demasiadamente ardiloso que empreende mudanças com o escopo único de lhe prejudicar.
Dito isso, é necessário que se faça aos conservadores um apelo importante: nunca deixem que o seu medo, por vezes justificado, de mudanças, sirva como obstáculo a um diálogo aberto ou, o que é pior, como um fator de desumanização daqueles que clamam pelo novo.
** Pedro Munhoz (@pedromunhoz5) advogado e historiador.