sábado, 15 de dezembro de 2012

Sobre carreiras


Sempre me pergunto se eu quero mesmo lidar com Direito por toda a minha vida. Não é que eu não goste. Muito pelo contrário. Direito é uma ciência interessantíssima, e acho que todo mundo deveria ter noções básicas sobre. Mas me falta a paixão.

A paixão que eu tenho pela literatura, por exemplo. O prazer que sinto em ler um livro e escrever uma resenha sobre. Ou o interesse que sinto por psicanálise. Ou a vontade que tenho de reviver as aulas de História do ensino médio. Ou o amor que tenho pela filosofia.

Mas aí surge outra questão importante: será que eu teria essa mesma paixão por tudo o que citei se elas me fossem impostas? Se eu dependesse delas para ganhar a vida?

Talvez o meu “problema” com Direito seja justamente o fato de ele, no mais das vezes, me ser imposto. Passei 5 anos estudando essa bagaça, outro tanto estudando para concursos. Por isso, a sociedade me cobra que eu faça algum proveito disso. Proveito material, bem entendido, porque para a maioria das pessoas, ter conhecimento, por si só, pelo simples fato de gostar de aprender, não conta.

E existe uma questão de orgulho próprio envolvido nisso. Toda vez que me passa pela cabeça largar o Direito e fazer outra faculdade, uma voz me diz: “vai desistir então?”. Você acaba encampando aquela idéia de “nossa, passei 5 anos me dedicando a isso, agora vou jogar fora todo esse esforço?”. Isso está ligado à eterna pressa em que vivemos, à correria da modernidade. Estamos sempre correndo para chegar o mais depressa possível a algum lugar. O problema é que não temos a mínima ideia de que lugar é esse.

Talvez o que mais me incomode no Direito sejam seus profissionais, não a ciência em si (que, repito, é das mais interessantes). É um mundinho muito restrito o desse pessoal; todos enfiados em seus casulos e cheios de si, presos a seus preconceitos e provincianismo. Vide a famosa questão de se chamar qualquer profissional dessa área de doutor. Eu me formei com gente que nunca leu um livro na vida, que não se interessam por política, que não apreciam música, que só assistem aos filmes que são lançamentos para não ficarem sem assunto, enfim, que não têm um pingo de cultura, mas que se acham o suprassumo da humanidade, por relevantes motivos como estar cursando Direito, ser de família "tradicional" (feudalismo manda abraço) ou usar ternos caros. Entendam: o problema não é a pessoa não ser lá muito culta - seria bobagem da minha parte exigir isso das pessoas, ainda mais num país como o Brasil, em que a educação não é lá essas coisas -, mas se achar especial quando não tem nenhum motivo para isso.

Nessas horas, procuro pensar que não se pode misturar as coisas. Sim, muitos que cursam Direito são grandessíssimos babacas. Mas o Direito não pode ser penalizado pelas práticas de seus operadores. Seria como largar sua religião porque o padre da sua cidade não lhe agrada. 

Outrossim, é curioso pensar que meu dilema é o oposto de pessoas que fizeram outros cursos. Na minha graduação estudei com gente formada em Odonto, Farmácia, Administração, Engenharia, Jornalismo, Matemática. E a maioria desses estava cursando Direito porque gostaria de ganhar mais. Até gostavam de seus cursos originários, mas se sentiam pouco recompensados financeiramente. Até eu que tenho um discurso de que dinheiro não traz felicidade compreendo essas pessoas. Não ganhar proporcionalmente ao seu esforço deve ser das coisas mais tristes. O x da questão nessa história é o conceito de “ganhar bem”. As pessoas costumam ser tão gananciosas que, se o que ela ganha não der para ter uma casa enorme, um carro 0km, jantar nos restaurantes mais caros, comprar roupas de marca e ter todas as tecnologias de ponta, dizem que seu salário não é “digno”.

Enfim, tenho muito medo de, daqui 20 anos, olhar para trás e pensar: eu deveria ter feito outra faculdade. Alguma que me despertasse paixão.

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