terça-feira, 4 de outubro de 2011

Em corrida.

Correndo tanto, mas para onde? É o que sempre me pergunto quando caminho pelas ruas de cidades como São Paulo, de olho nas expressões atribuladas que cruzam por mim. A vida moderna depositou um caminhão de afazeres nas costas de cada indivíduo, e o peso só aumenta com a pressa. Se um motorista se distrai quando o farol fica verde, logo toma buzina do carro detrás. Outro atravessa a rua com celular à orelha, com passos rápidos e desatentos. Aquele lá corre para o ônibus no ponto, afinal o próximo só passa daqui a meia hora, se não estiver lotado. E ploc, ploc, ploc, mulheres de salto caminham com a urgência de quem só tem meia hora para almoçar. E o assunto à mesa com os colegas será o próprio trabalho, do qual vão chegar em casa à noite e reclamar também.

Sim, porque as mulheres estão cada vez mais parecidas com os homens, e isto não é um elogio: elas põem o ganhar dinheiro e o subir na vida em primeiro lugar, tratam com crueldade os subordinados – as subordinadas, então! –, traem seus companheiros mesmo que sejam legais e leais, pensam o tempo todo em consumo e status, delegam a criação dos filhos para babás ou parentes. Conheço uma mulher que nunca sai do trabalho antes das 20h e, mesmo assim, às vezes sai mais cedo e demora para chegar em casa só para não pegar os filhos acordados. Como assim? Por que pôr filhos no mundo se não se tem tempo para eles? E mesmo no fim de semana o estresse insiste em não ir embora: sempre se tem algum compromisso, e como eles parecem aumentar sem parar…

Como se não bastasse, no caso delas há outras cobranças além de conciliar trabalho e família, cobranças – veja bem – que muitas vezes são elas mesmas que se fazem, mais que os homens. Me refiro às cobranças relativas à aparência. Elas se sentem pressionadas a sempre estar magras, na moda, arrumadas, maquiadas, sem rugas nem dobras, com cabelos e unhas impecavelmente pintados. É claro que os homens gostam das mulheres bonitas, mas pode ter certeza de que não dão a menor bola para muitos desses exageros, dessas obsessões, desse mundo de grifes e futilidades. O medo de envelhecer parece afetar muito mais a elas do que a eles, ao menos no sentido da vaidade física. Eles não são muito adeptos de botox e outros elixires da juventude, são?

Supostamente a tecnologia viria para nos dar mais tempo livre, ter horários mais flexíveis, resolver problemas com mais rapidez. Mas veja o número de horas semanais que cada pessoa perde checando emails, torpedos e redes sociais e navegando pelas fofocas da internet, inclusive no ambiente de trabalho; ou no trânsito; ou em casa, diante da TV. Como resultado, há menos convívio direto e, pior, menos tempo para refletir, para assimilar os dados e desenvolver raciocínios menos imediatistas sobre eles. Há mais egoísmo e descortesia nas ruas e nos lares, e os outros se tornam eles também objetos de consumo, úteis até provas em contrário. E ploc, ploc, ploc, todos vão direto para a solidão e a ansiedade, das quais os remedinhos prometem tirar em doses cada vez mais fortes. E não tiram.

Daniel Piza

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