terça-feira, 18 de outubro de 2011

Entrevista exclusiva com Satanás


Você estaria, como relatado pela Exorcista Chefe do Vaticano, Gabriele Amorth, espreitando o Vaticano?
Espreitando? Eu estava lá, mas eu não “espreitando”. Além disso, eu estou lá com freqüência. Estas são as notícias na era da Web 2.0?
Você está lá com freqüência?
Sim. Eu gosto das tortas. As freiras utilizam a quantidade exata de raspas de laranja. É muito saboroso.
O que você está fazendo lá?
O que você acha que eu estou fazendo lá?
Espalhando o mal inominável?
Que dramático. Eu prefiro chamar de “checando meus investimentos”.
Então o Vaticano estava certo: você é responsável pela epidemia de abusos sexuais na igreja?
Ah, isso é demais. Deixe-me explicar melhor. Vocês pegam milhares de pedófilos reprimidos, dão a eles acesso irrestrito e autoridade sobre as crianças, e ainda precisam me responsabilizar pelos resultados?
Você está dizendo que não há um poder maior por trás das ações horríveis de sacerdotes que abusam de crianças?
Você realmente acha que eu tenho tempo ou inclinação para manipular as ações de cada tarado nesta bola de lama? Tenho coisas mais interessantes para fazer do que incentivar a depravação.
Mas você tem lacaios demoníacos – você não os usa para fazer isso?
Lacaios? Você é um ás da literatura, não? Devemos realizar o resto desta entrevista em linguagem arcaica? Onde estão vossos lacaios, meu senhor? Não estariam vossos lacaios realizando vossas malignas ordens? Ah! Ou seria tuas? Eu sempre esqueço… tuas, vossas, enfim. De qualquer forma, não, eu não preciso de lacaios.
Então como você realiza seu plano maligno supremo?
Ah, você quer dizer como vou destruir as forças do bem para que eu possa reivindicar o domínio sobre o céu e a terra?
É.
Estou começando a sentir muito por você, de verdade. Olhe em volta, cara. Você não vê o quê os humanos estão fazendo a si mesmos a cada segundo de cada dia? Por quê em todo o multiverso eu precisaria de um “plano maligno supremo”? Essa estória foi deixada de lado há muito tempo, ou seja, quando o primeiro organismo botou sua cabecinha feia para fora do esterco.
Então, só para esclarecer, você está dizendo que os seres humanos não têm necessidade de seus, hum, serviços?
Agora você está chegando lá, amigo. Eu estava começando a achar que você era retardado. Exatamente, não precisam.
Então por que você existe?
Por que você existe?
Eu não sei, acho que depende da sua perspectiva. Religiões ocidentais dizem-nos que somos parte do plano de Deus.
Novamente essa de plano. O que se passa com os seres humanos e suas obsessões com grandes planos? Eu odeio dizer isso – bem, pule essa parte, na verdade eu adoro – mas você não é parte do plano de ninguém.
Então simplesmente não há conexões pessoais com poderes superiores?
Olhe, o negócio é o seguinte. Os seres humanos estão convencidos de que eles devem ter uma finalidade, e que todos estão recebendo atenção especial, como parte de algum plano. Mas se você deixasse de lado sua pretensão hipócrita por um minuto que seja e olhasse em volta, veria o quão imbecil é essa visão. Como, por exemplo, você explica o fato de ricos gordos e babacas com mansões em Miami, que não fazem nada além de contar seu dinheiro e decidir a que coquetel irão à noite, vivem por aí enquanto garotas de 5 anos são estupradas, violentadas e assassinadas no Congo praticamente todos dias? Faça qualquer comparação que desejar: compare as boy bands com o genocídio. O salário de jogadores de baseball com a fome desenfreada. Enfim. Vocês, pessoas, já sabem que essa merda toda é de verdade mas raciocinam como se fosse parte de um “plano”. Que porra de plano é esse? Até eu, Satanás, admito que isso é insano.
Bem, só para brincar de seu advogado, e se o plano simplesmente estiver além de nossa compreensão e tudo fizer sentido de alguma forma?
Certo. Adão e Eva comeram uma maçã da árvore e por causa disso o mundo está amaldiçoado, e a humanidade – pobre, cega, estúpida humanidade – simplesmente não consegue ver sentido nisso, mas em tempo tudo ficará claro. Ah, e não se esqueça que eu era uma cobra falante que minou o plano original de Deus sozinha, plano esse que foi tão incrivelmente bem planejado. Ponha uma árvore no meio de um jardim e diga à sua boneca Barbie e ao seu boneco Ken, nus, para que não comam o fruto da árvore senão vários milênios de inferno vão se suceder. Brilhante! E agora, veja, porque Deus desceu e comprou a fazenda para seu cultivo de suculentas frutas-amaldiçoadas, porque eu acho que só afogar tudo denovo seria muito chato, vocês têm a chance de salvarem-se acreditando que ele(s) sofreu(eram) por você. Se você acreditar, então você é um “escolhido” senão está condenado. Uma pena aquelas crianças que foram massacradas antes mesmo de ouvir uma palavra sobre isso, hein? Resumindo tudo: bonecas Barbie nuas persuadidas pela cobra falante a comer o fruto, depois uma maldição universal em toda a humanidade, depois Deus descendo e tomando no queixo pela coisa toda, depois a salvação ou a danação, depois tudo fazendo sentido no final. Sacou?
Isso é o que algumas pessoas, bem, várias pessoas acreditam, sim.
Eu encerro minha argumentação. Você tem que ter uma razão, e até mesmo algo tão descaradamente ridículo, enquanto for antigo – porque por alguma razão ser “antigo” torna as coisas mais verdadeiras para as pessoas – vai funcionar. Você suspenderá cada último vestígio de lógica para acreditar nisso. Você vai recusar o escrutínio com que analisa tudo o mais na sua vida para que não colida com sua fé numa amálgama de estórias escritas que foram convenientemente costuradas com a melhor piada já inventada – que você é especial e que pode viver para sempre.
Mas, você sabe, dizem por aí que seu maior feito foi convencer a humanidade de que você não existe.
Eu sei, eu adoro essa. Mas se eu pudesse, gostaria de editar essa frase assim: Minha maior conquista foi atuar de forma a tornar a auto-ilusão um vício tão poderoso. Não é possível ter a luz sem a escuridão. Sem mim, ou o “mal supremo”, qualquer que seja o termo que você preferir, não haveria necessidade de salvação, porque, se não do mal, então você está sendo salvo de quê?
De nós mesmos?
Bingo! Magnífico, não é? Este é um presente que continua se entregando, eu não tenho que fazer porcaria nenhuma. Os humanos são tão alienados em seu delírio de propósito, planos e racionalização, que a coisa toda apenas deságua em si, como um terrário.
Estou confuso.
Isso você é, mas temo que terei que partir. Eu tenho que atravessar toda a galáxia antes do almoço e checar como andam as coisas em… bem, você não conseguiria pronunciar isso mesmo… digamos que em outra bola de lama.
Espere, você está dizendo que há vida lá fora, além de nós?
Oh, não amigo, vocês são as criaturas mais especiais em todo o tempo e espaço. Como poderia haver vida lá fora?
Isso é sarcasmo, certo?
Outro prêmio para o nosso concorrente! Ouça, amigo, eu gosto de você – eu realmente sinto muito por você – por isso vou dar-lhe alguns conselhos de despedida: não imprima nada disso. Tudo o que vai fazer é tornar-se alvo de mais insultos e maldades do que você tem estômago para aguentar. As pessoas acreditam no que eles querem acreditar. Sempre foi assim e é assim que sempre vai ser. Quero dizer, faça o que quiser, mas não diga que não avisei.
Obrigado, eu acho.
Estou saindo. Ah, em todo o caso, seus pneus estão murchos.
Não estão não.
Você tem certeza? Muhahaahahhahaahahahaha!

Autor: David Disalvo
Tradução: João Cunha (exclusivo para o Bule)
Fonte: Trueslant
Via: Index (leia o post do Index para entender melhor o que motivou esta entrevista)

Disponível em http://bulevoador.haaan.com/2010/03/9199/

Nenhum comentário:

Postar um comentário