quarta-feira, 29 de junho de 2011

Eu e a religião - parte IV


Algo que me deixa perplexo é a incapacidade de muitos religiosos perceberem que aquilo que está escrito na bíblia não são verdades absolutas, que tudo que se escreveu comporta diversas interpretações. Deixando de lado acusações como “a Igreja Católica mudou a bíblia diversas vezes de acordo com seus interesses”, o fato é que, se existem tantas religiões cristãs, é porque cada uma interpretou a bíblia à sua maneira (e a diversidade é tanta que não existe consenso sequer sobre qual é o livro sagrado. Para muitos é o Alcorão). Por isso não engulo essas pessoas que dizem com toda empáfia: “os fulanos (da religião X) estão errados, a bíblia é clara ao dizer que...”. São os Arnaldos César Coelho da teologia!

Neste sentido, ter cursado Direito me ajudou muito a perceber que tudo na vida é questão de interpretação. Ora, se um breve diálogo entre duas pessoas pode ser interpretado de 03 maneiras, por que textos que foram escritos a milhares de anos não podem comportar zilhões de interpretações? Já vi debates entre pastores de igrejas diferentes. É o que a Psicologia chama de “diálogo de surdos”. Um tentava de todo jeito provar que o outro estava errado, e para tanto citava uma passagem bíblica que “comprovaria” sua tese. O pastor que era atacado usava basicamente duas linhas de defesa: ora um “você não entendeu o que essa passagem diz, a interpretação correta é...”, ora um “você está esquecendo que na passagem X a bíblia diz Y”. Foram dezenas de citações de versículos e capítulos, e no fim ambos saíram do debate da forma que tinham entrado.

Faço uma analogia entre a bíblia e a Constituição. Quem fez Direito sabe bem do que estou falando: quantas mil interpretações existem de cada artigo? Você já viu alguma tese jurídica gozar de unanimidade? O máximo que existem são correntes majoritárias. Eu, por exemplo, possuo várias convicções sobre diversos assuntos jurídicos. Mas não me atrevo a dizer que as posições divergentes da minha não devem nem ser consideradas, que o artigo X do código Y é claro e não há o que discutir. E é assim com tudo: um filme, uma música, um livro podem ser entendidos de formas distintas.

Alguém saberia me informar como são as aulas de um curso de Teologia? Porque em Direito os professores nos apresentavam um assunto e depois diziam que a corrente majoritária entendia que era aquilo era assim, mas havia quem sustentasse que era assado, enquanto outros asseveravam que era frito, e assim por diante. Ou seja, os professores nos mostravam que havia diversidade de opiniões. Será que em Teologia é assim ou os alunos aprendem apenas o lado da religião que professam?

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