quarta-feira, 4 de maio de 2011

O Dia do Curinga

            Estou lendo “O Dia do Curinga”, do Jostein Gaarder, o mesmo autor de “O Mundo de Sofia”. Segue a mesma linha, ensinamentos de filosofia entremeados por uma história fantástica, um tanto “sem pé nem cabeça”, mas que no fim será explicada e tudo fará sentido. Leitura que recomendo! Desde que, obviamente, você se interesse por filosofia. Do contrário, achará a história um porre.

            Divido com vocês um trecho do livro, que assim como muitos outros trechos, desperta a reflexão. É um diálogo:

            “ - Vamos tomar um exemplo bem simples: digamos que eu esteja pensando num amigo e que no momento seguinte ele me telefone ou então apareça na minha casa. Muitos consideram uma coincidência como essa algo sobrenatural. Acontece, porém, que penso com freqüência nesse meu amigo e nem por isso ele toca a campainha da minha casa toda vez que penso nele. E acontece também de ele me telefonar muitas vezes, sem que eu esteja pensando nele. You see?

Concordei com a cabeça.

- O problema é que a gente sempre pensa naquelas ocasiões em que as duas coisas acontecem ao mesmo tempo. E é este o ponto. Se achamos na rua uma nota de dez coroas quando estamos precisando com urgência de dinheiro, a primeira coisa que nos vem à cabeça é que há algo de ‘sobrenatural’ naquela coincidência. Ainda que a gente viva duro trezentos e sessenta e cinco dias por ano! Pois bem, é exatamente assim que vão se acumulando as histórias sobre toda a sorte de ‘experiências sobrenaturais’ que nos são contadas por nossas tias e tios. As pessoas se interessam tanto por histórias assim que estas se multiplicam cada vez mais. Mas também neste caso trata-se de algo em que apenas os ganhadores são visíveis”.

Para que vocês entendam esta menção aos ganhadores: no começo do diálogo, o pai convida o filho a refletir sobre o milagre que é estar vivo, o milagre que é existir. Ele cita o ano de 1349, ano em que o mundo foi assolado pela peste negra. Na Noruega (país natal dos personagens), metade da população foi dizimada. O pai chama a atenção para o fato de que se qualquer um de seus antepassados tivesse sucumbido à peste, nem ele nem o filho existiriam. E este raciocínio se aplica às guerras, à fome, ou a qualquer causa que possa levar alguém à morte.

Todos nós temos dois pais, quatro avós, oito bisavós e assim sucessivamente. Se ao longo da história qualquer um de seus antepassados tivesse morrido, você não estaria aqui. É por isso que o personagem conclui: toda pessoa que existe é uma vencedora, pois muitos não tiveram a chance de nascer.

E tem gente que diz que filosofia é chato...

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